Taiwan | China acusada de pressionar universidade espanhola

Uma académica taiwanesa revelou ontem mensagens da embaixada chinesa em Espanha a pressionar a Universidade de Salamanca para cancelar um evento cultural dedicado a Taiwan, ilustrando a rápida expansão do totalitarismo político de Pequim além-fronteiras

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]evento, designado “Dia da Cultura de Taiwan”, estava marcado para Outubro passado, mas acabou por ser cancelado, devido à intervenção da embaixada chinesa, segundo Shiany Perez-Cheng, que deu aulas naquela universidade espanhola entre 2008 e 2017. O ‘email’, enviado pelo gabinete de assuntos da Educação, pede ao reitor, José Manuel del Barrio, que cancele a programação dedicada a Taiwan, para que se evite um “incidente desagradável” que poderia ter impacto nas relações da universidade com Pequim.

“Não gostaríamos que a vossa instituição fosse usada pelas autoridades de Taiwan como uma plataforma para propaganda política; isso afectaria as boas relações da universidade com a China”, lê-se na mensagem, enviada em outubro passado. Em particular, a diplomacia chinesa desaprovou o convite endereçado ao representante de Taiwan em Espanha, Simon Ko Shen-yeaw, para participar na abertura do evento. “Isso causaria confusão e mal-entendidos sobre a questão de Taiwan”, nota.

A embaixada lembra ainda ao reitor que há muitos estudantes e académicos chineses que frequentam a Universidade de Salamanca.

Citado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post (SCMP), Perez-Cheng diz que o reitor encaminhou a mensagem para o departamento de estudos de Taiwan, que organizou o evento, e marcou uma reunião para o mesmo dia. “Quando chegamos à faculdade de Ciências Sociais, havia uma atmosfera sombria”, afirmou a académica, citada pelo SCMP. “Eles estavam verdadeiramente assustados”, lembrou. Segundo Perez-Cheng, o reitor explicou então que a universidade falou ao Governo espanhol sobre o incidente, que deu as “instruções” sobre como lidar com a situação. No dia seguinte, o “Dia da Cultura de Taiwan” foi cancelado, “devido a circunstâncias não relacionadas com a faculdade de Ciências Sociais”, explicou.

Caso de Braga

Funcionários do Governo espanhol ou da universidade não comentaram, até à data, o incidente, que ocorre numa altura em que Pequim redobra os esforços para isolar Taiwan. Nos últimos meses, o Governo chinês exigiu a companhias áreas, hotéis ou marcas internacionais que passassem a referir-se a Taiwan como parte da República Popular da China, ameaçando com sanções legais.

Um dos casos mais badalados envolvendo a censura chinesa além-fronteiras ocorreu em Portugal, durante uma conferência que reuniu centenas de sinólogos na Universidade do Minho. Páginas do programa contendo informação sobre a Fundação Chiang Ching-kuo, uma organização académica de Taiwan que promove o estudo do chinês, foram arrancadas a mando da directora-geral do Instituto Confúcio, organismo patrocinado por Pequim para assegurar o ensino da língua chinesa. O episódio passou-se em Braga, mas as autoridades chinesas justificaram a sua atitude com a necessidade de cumprir com as “regulações chinesas”.

O acto foi publicamente condenado pela Associação Europeia de Estudos Chineses, como uma “interferência totalmente inaceitável”.

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