Segundo episódio da guerra comercial estreia esta semana

 

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ovas taxas alfandegárias entram, esta semana, em vigor nos Estados Unidos e China sobre parte das importações oriundas dos dois países, num segundo episódio da guerra comercial que está a deixar empresários e investidores “apavorados”.
A partir desta quinta-feira, os funcionários das alfândegas norte-americanas vão recolher taxas adicionais de 25 por cento sobre um conjunto de 279 produtos chineses que, no ano passado, representaram 13.800 milhões de euros nas importações norte-americanas.
A maioria dos produtos penalizados são bens industriais, incluindo tractores, tubos de plástico ou instrumentos de medição. A China promete retaliar com taxas sobre igual valor de importações oriundas dos EUA, incluindo produtos energéticos, como carvão, e automóveis.
O Presidente norte-americano, Donald Trump, reclama uma balança comercial mais justa, e que Pequim ponha fim a subsídios estatais para certos sectores industriais estratégicos. Washington acusa ainda a China de “tácticas predatórias”, que visam o desenvolvimento do seu sector tecnológico, nomeadamente forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia, em troca de acesso ao mercado chinês.
A China fabrica 90 por cento dos telemóveis e 80 por cento dos computadores do mundo, mas depende de tecnologia e componentes oriundos dos EUA, Europa e Japão, que ficam com a maior margem de lucro.
As autoridades chinesas estão, por isso, a encetar um plano designado “Made in China 2025”, para transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros elétricos. No entanto, “o comércio não é uma questão bilateral, mas multilateral”, lembra Yokon Huang, antigo director do Banco Mundial para a China, assinalando que a guerra comercial entre Pequim e Washington afectará também a Europa, que “usa a China como um centro de exportações para todo o mundo”.
“As empresas europeias estão três ou quatro vezes mais vinculadas à economia e produção chinesas do que as norte-americanas”, acrescenta o autor de “Cracking the China Conundrum: Why Conventional Economic Wisdom Is Wrong”, num encontro com jornalistas em Pequim.
Desde o início das disputas comerciais, a moeda chinesa, o yuan, desvalorizou-se mais de 8 por cento, enquanto a bolsa de Xangai, a principal praça financeira do país, caiu mais de 12 por cento.
Exportadores radicados no país asiático afirmam que os empresários chineses estão “apavorados e indignados” face à tensão entre Washington e Pequim, que ameaça indústrias inteiras nos dois países.
“Existem fábricas com 300 funcionários que provavelmente vão parar”, conta à agência Lusa Ricardo Geri, cofundador da Plan Ahead, empresa com sede em Pequim que exporta pedra artificial à base de quartzo para os EUA, sector ameaçado pelas disputas comerciais. “Há uma certa indignação entre os empresários chineses, que investiram muito dinheiro para aumentar a produção”, admite Geri, natural do Estado brasileiro de Rio Grande do Sul e radicado em Pequim há cinco anos.

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