A jovem criada – Dedicado a Ludwig von Ficker

1

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]miúde, junto ao poço, ao entardecer,

Vemo-la, enfeitiçada, de pé, a

Tirar água, ao entardecer.

Baldes a subir e a descer.

Nas faias, esvoaçam gralhas,

E ela parece-se com uma sombra.

Os seu cabelos amarelos esvoaçam

E no pátio chiam os ratos.

E fascinada pelo declínio,

Baixa as pálpebras inflamadas.

Erva seca em declínio

Cai a seus pés.

 

Die junge Magd

Ludwig von Ficker zugeeignet

1

Oft am Brunnen, wenn es dämmert,

Sieht man sie verzaubert stehen

Wasser schöpfen, wenn es dämmert.

Eimer auf und nieder gehen.

In den Buchen Dohlen flattern

Und sie gleichet einem Schatten.

Ihre gelben Haare flattern

Und im Hofe schrein die Ratten.

Und umschmeichelt von Verfalle

Senkt sie die entzundenen Lider.

Dürres Gras neigt im Verfalle

Sich zu ihren Füssen nieder.

[1] TRAKL, GEORG. (2008). Das dichterische Werk: Auf Grund der historisch-kritischen Ausgabe. Editores: Walther Killy e Hans Szklenar. Munique. Deutscher Taschenbuch Verlag.

2

Silenciosamente, trabalha no quarto

E o pátio há muito que está deserto.

No sabugueiro, à frente do quarto,

Um melro canta o seu lamento.

Prateada a sua imagem, no espelho, olha

estranhamente para ela, no lusco-fusco,

E a imagem entardece pálida no espelho,

E estremece perante a pureza da rapariga.

Como num sonho, canta um criado na escuridão,

E ela olha-o fixamente, abalada pela dor.

Uma vermelhidão goteja através da escuridão.

De repente, o vento sul sacode o portão.

 

Die junge Magd

2

Stille schafft sie in der Kammer

Und der Hof liegt längst verödet.

Im Hollunder vor der Kammer

Kläglich eine Amsel flötet.

Silbern schaut ihr Bild im Spiegel

Fremd sie an im Zwielichtscheine

Und verdämmert fahl im Spiegel

Und ihr graut vor seiner Reine.

Traumhaft singt ein Knecht im Dunkel

Und sie starrt von Schmerz geschüttelt.

Röte träufelt durch das Dunkel.

Jäh am Tor der Südwind rüttelt.

3

De noite, sobre o prado nu,

Ela agita-se em sonhos febris.

Amuado lamenta, no prado, o vento,

E a lua está à escuta nas árvores

Logo empalidecem as estrelas em redor

E, exaustas de queixumes,

As suas faces de cera empalidecem.

Uma podridão exala da terra.

Triste, sussurra o canavial na lagoa

E, encolhida sobre si, gela de frio.

Ao longe, canta um galo. Sobre a lagoa

Dura e cinzenta, estremece a manhã.

3.

Nächtens übern kahlen Anger

Gaukelt sie in Fieberträumen.

Mürrisch greint der Wind im Anger

Und der Mond lauscht aus den Bäumen.

Balde rings die Sterne bleichen

Und ermattet von Beschwerde

Wächsern ihre Wangen bleichen.

Fäulnis wittert aus der Erde.

Traurig rauscht das Rohr im Tümpel

Und sie friert in sich gekauert.

Fern ein Hahn kräht. Übern Tümpel

Hart und grau der Morgen schauert.

Na forja, retine o martelo,

E ela apressada pelo portão passa.

Incandescente o martelo o criado brande,

E ela olha para ele como se estivesse morta.

Como num sonho, ela é atingida pelo seu riso

E cambaleia em direcção da forja.

Agacha-se envergonhada com aquele riso,

Duro e grosseiro como o martelo

As centelhas espalham-se claras pelo espaço

E com gestos impotentes,

Ela procura agarrar as selvagens centelhas

E cai aturdida por terra.

 

Die Junge Magd

4

In der Schmiede dröhnt der Hammer

Und sie huscht am Tor vorüber.

Glührot schwingt der Knecht den Hammer

Und sie schaut wie tot hinüber.

Wie im Traum trifft sie ein Lachen;

Und sie taumelt in die Schmiede,

Scheu geduckt vor seinem Lachen,

Wie der Hammer hart und rüde.

Hell versprühn im Raum die Funken

Und mit hilfloser Geberde

Hascht sie nach den wilden Funken

Und sie stürzt betäubt zur Erde.

 

 

5

Muito magra, estendida na cama,

Acorda cheia de uma doce angústia

E vê a sua cama suja

Completamente coberta por uma luz dourada,

As resedas ali na janela

E a claridade azul do céu.

Às vezes, o vento traz até à janela

O hesitante tinir de um sino.

Sombras deslizam sobre a almofada.

Bate lentamente o meio dia

E ela respira pesadamente na almofada,

E a sua boca é como uma ferida.

 

Die Junge Magd[1]

5.

 

Schmächtig hingestreckt im Bette

Wacht sie auf voll süßem Bangen

Und sie sieht ihr schmutzig Bette

Ganz von goldnem Licht verhangen,

Die Reseden dort am Fenster

Und den bläulich hellen Himmel.

Manchmal trägt der Wind ans Fenster

Einer Glocke zag Gebimmel.

Schatten gleiten übers Kissen,

Langsam schlägt die Mittagsstunde

Und sie atmet schwer im Kissen

Und ihr Mund gleicht einer Wunde.

6

À noite, esvoaçam lençóis ensanguentados.

Esvoaçam nuvens sobre florestas mudas,

Estão envoltas em lençóis negros,

Pardais fazem alarido nos campos.

Ela está deitada completamente branca no escuro.

Debaixo do telhado, sopra um arrulho.

Como no bosque à volta de uma carcaça negra

Moscas redemoinham à volta da sua boca.

Como num sonho, ecoam na aldeia castanha

Sons de dança e violino.

O seu semblante paira sobre a aldeia

E o seu cabelo sopra em ramos desfolhados.

 

Die junge Magd

6

Abends schweben blutige Linnen,

Wolken über stummen Wäldern,

Die gehüllt in schwarze Linnen.

Spatzen lärmen auf den Feldern.

Und sie liegt ganz weiß im Dunkel.

Unterm Dach verhaucht ein Girren.

Wie ein Aas in Busch und Dunkel

Fliegen ihren Mund umschwirren.

Traumhaft klingt im braunen Weiler

Nach ein Klang von Tanz und Geigen,

Schwebt ihr Antlitz durch den Weiler,

Weht ihr Haar in kahlen Zweigen.

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