Segurança | China recebe Assembleia Geral da Interpol

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China recebe desde ontem a Assembleia Geral da Interpol, numa altura de preocupação sobre a neutralidade da organização face à possibilidade de ser usada por Pequim contra dissidentes e activistas.

No discurso que abriu a 86ª Assembleia Geral da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), o Presidente chinês, Xi Jinping, afirmou que a China quer trabalhar com outros países e organizações para alcançar a “segurança mundial”.

A organização de defesa dos Direitos Humanos Human Rights Watch advertiu, no entanto, que a China tem usado “alertas vermelhos” da organização visando a detenção e extradição de dissidentes chineses.

A escolha de Meng Hongwei, vice-chefe do aparelho de Segurança chinês, que inclui tribunais, polícia e polícia secreta, para presidente da Interpol, no ano passado, provocou críticas de várias organizações internacionais, que citam os abusos e opacidade do sistema legal chinês.

A organização recordou o caso de Dolkun Isa, activista uigur, a minoria étnica chinesa de origem muçulmana que habita a região do Xinjiang, noroeste do país. A organização aponta que Isa tem tido dificuldades em viajar desde que o alerta foi emitido, há mais de dez anos.

A China frequentemente acusa activistas uigures de apoiar o terrorismo no Xinjiang, região que é palco recorrente de conflitos étnicos.

A HRW também menciona o activista Wang Zaigang, afirmando que se tornou alvo de um “alerta vermelho”, devido ao seu activismo a favor da democracia na China.

Peso e dúvidas

As detenções arbitrárias, torturas e desaparecimentos ocorridos no passado “geram preocupações de que quem é alvo de alertas da Interpol pela China corre o risco de sofrer torturas e maus tratos”, diz a organização.

O especialista em política chinesa Willy Lam afirma que a China tem usado o seu peso económico para influenciar grupos como a Interpol.

Lam apontou casos em que não é claro se se trata de corrupção ou retaliação contra quem acusa membros da liderança chinesa, como o bilionário chinês exilado nos Estados Unidos Guo Wengui.

Em Abril, Pequim anunciou que a Interpol emitiu um alerta vermelho contra Guo, por corrupção. As autoridades chinesas condenaram vários funcionários por fraude, em Junho, e abriram uma investigação a Guo por acusação de violação feita por uma antiga assistente.

Guo Wengui, que vive num apartamento de 68 milhões de dólares em Manhattan, deixou de ser visto em público em 2014, mas voltou recentemente a surgir nas redes sociais, afirmando ter informações comprometedoras para a liderança chinesa.

“A China converteu a Interpol noutro espaço para projectar o seu poder”, afirmou Lam. “Investiram muito na perseguição a fugitivos além-fronteiras, incluindo aqueles que são procurados por razões políticas.

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