Eleições | Agnes Lam diz estar entre democratas e campo tradicional

Muitos analistas falaram daquela que foi a grande surpresa das eleições legislativas como estando posicionada ao centro, em termos políticos. Em entrevista à Lusa, Agnes Lam, líder da Observatório Cívico e deputada eleita, afirma isso mesmo, mas refere que não quer ser vista como “anti-governo”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] recém-eleita deputada de Macau Agnes Lam diz não se identificar com nenhuma das alas da Assembleia Legislativa (AL) – democrata ou pró-sistema – e frisa que, ainda que apoie o sufrágio universal, não quer ser vista como “anti-governo”.

Desde que Agnes Lam foi eleita para a AL no passado dia 17, que comentadores, politólogos e meios de comunicação diferem na forma de a categorizar: uns acham que vem alargar o campo democrata, outros rotulam-na como pró-sistema. Em entrevista à agência Lusa, Lam diz estar a tentar seguir “um caminho novo”.

“Sou diferente do campo pró-sistema tradicional e do campo democrático tradicional. Porque é que estou a concorrer? Porque não gosto da maneira como lidam com as coisas. Sou independente, quero ser profissional. Percebo porque é difícil para os media categorizarem-me, têm usado diferentes rótulos”, comentou.

Agnes Lam, professora universitária, diz ser a favor da implementação do sufrágio universal em Macau, mas não é por isso que se coloca firmemente com os democratas, já que “eles são mais, como os chineses lhes chamam, anti-governo”.

No entanto, Lam, de 45 anos, também não se vê como uma clássica candidata do ‘sistema’, apesar de nas eleições ter sido apoiada pela tradicional Associação da Nova Juventude Chinesa e de ser membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.

“Não me importo que [Pequim] me apoie, mas ao mesmo tempo quero manter o meu estatuto de independente. Fui nomeada para essa posição antes de começar a pensar que podia concorrer às eleições e não vejo grande vantagem em demitir-me apenas por causa dos rótulos das pessoas”, justificou.

Para Lam, ao contrário de países como os Estados Unidos, em Macau “não há assim tantas diferenças ideológicas” e “não faz sentido passar o tempo todo a discutir essas coisas”.

“Passamos muito tempo a acusar pessoas ‘Estás com Pequim, não vais fazer nada de bom’, ‘És contra o Governo por isso o que propões não é bom’. Passamos muito tempo a acusar os outros e não nos focamos nos assuntos em si (…) Não quero sentar-me ali e gritar com este e aquele”, afirmou.

Unir para legislar

A nova deputada considera formar parcerias para propor projectos de lei, mas não elege os quatro deputados do campo pró-democrata como aliados naturais. “Considero formar alianças com toda a gente. [Esses quatro] não chegam, se não tiver o outro lado não consigo fazer nada”, explicou.

A estratégia, disse, vai depender da natureza dos assuntos. Um dos seus objectivos é legislar contra a discriminação da amamentação em público, sendo esse um projecto em que planeia tentar juntar-se às outras cinco deputadas.

Já para “leis que envolvam interesses” será necessária “uma estratégia diferente”. Pode ser o caso da revisão da lei do erro médico, uma das suas prioridades para a nova legislatura, para a qual contará com o apoio dos dois médicos que integraram a sua lista.

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