Warmwall | No disco “City of Dreams” há um outro lado de Macau

Chamam-se Gassi Pang e Chai Kefu e juntos formam a banda Warmwall. O disco “City of Dreams”, lançado recentemente, é muito mais do que uma alusão ao famoso casino do Cotai. São oito canções sobre os sonhos ou a falta deles, ou de como podemos ficar confortavelmente presos a cadeiras imaginárias

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s sonoridades pouco ou nada têm de asiático ou de inspiração das famosas musicas K-Pop. Ouvir as oito canções que compõem o álbum “City of Dreams” remetem-nos para a Europa ou Estados Unidos.

São estas sonoridades mais pop-rock, ou de rock alternativo, que fazem bater os corações de Gassi Pang e Chai Kefu na hora de fazer canções. “City of Dreams” foi lançado recentemente no espaço de concertos intitulado Live Music Association e, para ser gravado, obteve o apoio financeiro do Instituto Cultural (IC).

O HM encontrou-se com Gassi Pang e Chai Kefu e conversámos sobre um álbum que começou a ser delineado, um pouco por acaso, quando ambos eram alunos da escola secundária. Chai Kefu começou a escrever algumas canções, enquanto Gassi Pang concluiu muitas das composições que iam surgindo.

“Já tocávamos numa banda há cinco anos”, contou Gassi Pang. “Nessa altura tinha outro nome, mas esse projecto acabou.”

Para gravar “City of Dreams”, os dois fizeram-se acompanhar por vários músicos para chegarem ao resultado desejado.

“Tivemos muitos parceiros para gravar este disco. Somos apenas dois músicos e gostaríamos de adicionar outras sonoridades, outros instrumentos”, explicou Gassi Pang.

Gritos na cidade

“City of Dreams”, a música que dá o nome ao álbum, é, aos olhos dos seus compositores, um grito, uma expressão por aquilo que este território é na maior parte das vezes.

“Quando escrevi a canção ainda era estudante. Já conhecia o Gassi e foi ele que acabou de compor. A sensação que tínhamos nesta altura era uma enorme vontade de gritar. Gritar por causa da cidade”, contou Chai Kefu.

Para Gassi, as oito canções do disco dão a resposta aquilo que o álbum é na sua essência.

“Todas estas canções são diferentes, mas têm um ponto em comum: o facto de estarmos em Macau. É o mesmo nome do casino, mas é um nome que tem outro significado. A imagem do álbum mostra uma cadeira, e é como se alguém tivesse sempre amarrado à cadeira. A partir daí decidimos dar o nome ‘City of Dreams’”, apontou.

Quando Gassi saiu da escola começou a trabalhar num casino. Foi aí que se deparou com vidas presas a cadeiras, pessoas que ficam eternamente em empregos demasiado confortáveis, mas sem uma perspectiva de futuro.

“Trabalhava num casino há cinco anos mas não estava muito feliz. Vi muitos jovens assim, nestes trabalhos, sentados nestas cadeiras. Os meus colegas eram assim. Alguns deles preferiam estar a fazer música, ou outro tipo de trabalho, mas simplesmente optavam por ficar na cadeira, por causa do bom salário.”

Na cidade onde existe um espaço de jogo intitulado “City of Dreams” será fácil sonhar? Gassi garante que, no território onde existe pleno emprego, é fácil ter um bom salário, mas não chega para ter acesso a todos os sonhos.

“Talvez seja difícil sonhar em Macau. É fácil encontrar um trabalho, é fácil entrar nos casinos, este nome explica isso. Os mais jovens podem encontrar facilmente um emprego mas não têm outras perspectivas. A maior parte está sentada numa cadeira como a que está na capa do álbum e não se mexem, estão confortáveis. É isso que significa”, acrescentou um dos membros da banda.

Em Macau “as pessoas andam pela cidade, a um ritmo alucinante, e existem construções por todo o lado”. “Vivemos na cidade dos sonhos, mas só temos acesso a metade disso”, frisou Gassi.

Banda separada

Para divulgarem este projecto, a banda deixou espalhadas pela cidade várias mensagens nas paredes, onde constam apenas as palavras “City of Dreams” e pequenas cadeiras. Depois do primeiro concerto no LMA, é pouco provável que este disco volte a ser tocado ao vivo. Pelo menos no território, já que há a possibilidade de serem realizados alguns espectáculos em Taiwan, onde estuda Chai Kefu.

“Quanto a outros concertos, para já não, porque eles os dois vão voltar para Taiwan para estudar e este mês ainda podemos tocar em Macau. Mas como grupo será difícil voltar a tocar o ‘City of Dreams’”, explicou Gassi.

Gassi diz-se, ele próprio, afastado das canções que ajudou a compor há um punhado de anos. O tempo passou e ele próprio mudou como pessoa. Ainda trabalha num casino, mas confessa ter outros projectos musicais em mente.

“Acho que não vou fazer outro álbum, mas ele (Chai Kefu) sim. Fizemos estas músicas há três anos mas já não sinto nada em relação a estas canções, porque estou mais virado para outras sonoridades, como o Folk. Já não sou a mesma pessoa, mudei”, rematou.

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