Peter Bartusek, profissional dos sete ofícios | Homem do renascimento

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á pessoas que deambulam pelo mundo, quase como se vivessem ao sabor do vento. Peter Bartusek é um bom exemplo disso, o protótipo daquilo a que se convencionou chamar de um cidadão do mundo. Em poucos anos, o húngaro viveu em seis países, sempre com ocupações diferentes.

Há quatro anos chegou a Macau na sua primeira incursão asiática. O primeiro impacto foi perturbante para Peter Bartusek. “Na altura, vivia em França, nas montanhas, no meio do campo, e quando cá cheguei fiquei chocado, não gostei muito de Macau”, confessa. O abalo inicial foi como uma comoção. Habituado a ter campo de visão, Peter Bartusek sentiu uma enorme falta da natureza e de amplitude, de espaços abertos. “Achei a cidade claustrofóbica e poluída”, conta.

Aos poucos, essa sensação foi sendo atenuada, em especial com a ajuda das amizades que foi firmando. “Conheci pessoas muito boas, mas é claro que se demora sempre um pouco a desenvolver amizades e a ganhar confiança”, recorda.

Os primeiros contactos com locais, em particular chineses, foram complicados para o húngaro. O recém-chegado achou as pessoas rudes, com um trato duro, pouco polido. Uma primeira impressão que se foi alterando à medida que foi entendendo a cultura. “Normalmente não gosto de gritar com empregadas para conseguir chamar-lhes a atenção, não é assim que as coisas funcionam na Europa, mas foi algo a que me tive de habituar”, exemplifica.

Hoje em dia, Macau ainda o sujeita a altos e baixos constantes. Depois de se ter apercebido do panorama geral, de ter entendido a cidade, Peter Bartusek passou a gostar de Macau, com o tempo lá sucumbiu ao seu charme. Para já, confessa que não tem planos para sair, é algo que não está no seu horizonte. Ainda assim, se sair, o húngaro “gostava de ficar algures na Ásia”.

Multi-tasker

Chegou a Macau porque as oportunidades de emprego na Europa escasseavam, mesmo para uma pessoa que faz de tudo um pouco. Peter Bartusek, enquanto estudava Química na Hungria, trabalhou na construção civil. Terminado o curso, conseguiu emprego numa empresa farmacêutica, onde ficou um ano e meio. Depois disso, o acaso tomou conta da sua vida profissional e fê-lo percorrer a Europa.

Após uma conversa provocadora com um amigo, acabou por se mudar para a Grécia, onde trabalhou como fotógrafo. Em seguida foi viver para Inglaterra, onde foi empregado num centro de jardinagem e depois num centro de lavagem de automóveis. Voltou à Hungria, onde trabalhou em atendimento ao público num aeroporto a vender bilhetes de shuttle. Seguiu para mais uma temporada em Inglaterra, antes de viver seis meses em Oeiras. A passagem seguinte, antes de vir para Macau, foi em França. “Já fiz de tudo, acho que nunca fiz nada duas vezes, andei de trabalho em trabalho, de país em país.”

Em Macau faz de tudo um pouco, pinta apartamentos, faz reparações, trata de canalizações. É algo que gosta de fazer e que veio mesmo calhar, uma vez que em Macau escasseavam pessoas a fazer este tipo de trabalho que falassem inglês.

Na visão de Peter Bartusek, todas estas mudanças enriqueceram-lhe, em muito, a vida. “Acho que sou mais tolerante em relação a pessoas que são diferentes de mim, aprendi a adaptar-me a diversas situações em pouco tempo”, explica. O húngaro chegou, várias vezes, a terras que não conhecia sem ter um emprego, sem ter nada e a ter de arranjar formas de sobreviver. Sempre com o apoio de amigos, conhecendo pessoas e encontrando formas de trabalhar com elas.

Até que chega a Macau, onde o húngaro de 33 anos já vive há quatro anos e se sente em casa. Por cá, gosta de Coloane, de ficar próximo da natureza, mas também se deixou encantar “pela estranheza da cidade, onde há zonas que são o equivalente a viajar pela história”.

Outro dos destaques de Peter Bartusek são os pequenos restaurantes chineses, onde gosta de partilhar uma refeição com os amigos. Até nesse aspecto, Macau pode oferecer um pouco de aventura e uma sensação de entrar em território imprevisto, um pouco ao sabor da vida do húngaro. “Adoro as velhas tascas chinesas, onde é sempre divertido e desafiante pedir algo”, conta Peter Bartusek.

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