Comércio | Portugal ainda não consegue exportar plenamente para a China

AICEP quer fim de “entraves ainda existentes” às exportações

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] administrador-executivo da AICEP, António Silva, fez hoje votos para os “entraves ainda existentes” à exportação de “muitos produtos alimentares portugueses” para a China sejam “objecto de negociação entre as autoridades competentes” dos dois países.

“Muito gostaríamos que os entraves ainda existentes para a exportação de muitos produtos alimentares portugueses fossem objecto de negociação entre as autoridades competentes dos nossos países”, afirmou o líder da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), em declarações no Fórum Portugal-China, um evento realizado na Assembleia da República, que acolheu uma comitiva de empresários chineses provenientes da província de Guangdong, e aberto à participação de deputados e empresários portugueses.

António Silva começou por sublinhar a importância de Guangdong, a província chinesa “mais fortemente orientada para o exterior, para a exportação e internacionalização”, onde se localizam as principais três zonas especiais de comércio e investimento, Shenzhen, Zhuhai e Shantou, e deu conta do “relacionamento excepcional, a todos os níveis”, entre Portugal e a China. “Portugal e a China têm um relacionamento excepcional a todos os níveis. Estamos talvez no melhor momento deste nosso relacionamento”, disse.

O presidente da AICEP manifestou-se “optimista” em relação à participação portuguesa no projecto “Uma faixa, uma rota”, que a China está a desenvolver e que será o chapéu das relações económicas entre o gigante asiático e a Europa. “O posicionamento estratégico de Portugal transcontinental e transatlântico permite ser optimista em relação à nossa participação no projeto”, afirmou.

“No âmbito da iniciativa ‘Uma faixa, uma rota’, destacamos como oportunidades para Portugal as áreas dos Transportes e Logística, Infra-estruturas de transportes portuárias e respectivas zonas logísticas associadas, designadamente, Sines, que neste contexto assume uma importância estratégica para o comércio mundial”, especificou o responsável.

Neste contexto, Silva destacou a importância da assinatura do memorando de entendimento entre o Haitong Bank, o Banco de Desenvolvimento da China e a AICEP visando a identificação de potenciais grupos chineses interessados no estabelecimento da zona industrial e logística de Sines.

Na área das energias renováveis, a prioridade dada à utilização de energias não poluentes ao longo da rota, tendo em conta o conhecimento e a oferta no sector, “Portugal pode ser um parceiro muito interessante”, disse ainda o responsável português, que valorizou ainda o potencial português nos domínios da economia do mar e do know-how das empresas lusas em áreas como as da urbanização inteligente – desenvolvimento de “smart cities” -, ou agricultura moderna, etc.

O valor das exportações de bens e serviços portugueses para a China em 2016, de acordo com a AICEP, atingiu os 861 milhões de euros, com uma taxa de cobertura da ordem dos 50%. No entanto, sublinhou António Silva, 2016 foi um ano com resultados ligeiramente inferiores aos de 2015.

“Em contrapartida, no período de Janeiro a Abril de 2017, comparado com o período homólogo de 2016, as exportações de bens e serviços portugueses para a China aumentou 61%, pelo que estamos otimistas em relação aos resultados de 2017, que deverão atingir um recorde histórico nas nossas relações económicas”, disse.

Depois de uma queda em 2016, as trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa subiram 40,41% até Abril, em termos anuais homólogos, atingindo 34,17 mil milhões de dólares, indicam dados oficiais.

Dados dos Serviços de Alfândega da China, publicados ontem no portal do Fórum Macau, indicam que a China comprou aos países de língua portuguesa bens avaliados em 24,41 mil milhões de dólares – mais 50,93% – e vendeu produtos no valor de 9,75 mil milhões de dólares– mais 19,56%.

O Brasil manteve-se como o principal parceiro económico da China, com o volume das trocas comerciais bilaterais a cifrar-se em 24,31 mil milhões de dólares entre Janeiro e Abril, um valor que traduz um aumento anual homólogo de 40,50%.

As exportações da China para o Brasil atingiram 7,67 mil milhões de dólares, reflectindo uma subida de 29,51%, enquanto as importações chinesas totalizaram 16,63 mil milhões de dólares, mais 46,19% face aos primeiros quatro meses do ano transacto.

Com Angola – o segundo parceiro chinês no universo da lusofonia – as trocas comerciais cresceram 61,83%, atingindo 7,60 mil milhões de dólares.

Pequim vendeu a Luanda produtos avaliados em 597,05 milhões de dólares – mais 27,71% – e comprou mercadorias avaliadas em 7,0 mil milhões de dólares – reflectindo uma subida de 65,60%.

Já com Portugal, terceiro parceiro da China entre os países de língua portuguesa, o comércio bilateral cifrou-se em 1,61 mil milhões de dólares – menos 5,11% –, numa balança comercial favorável a Pequim.

A China vendeu a Lisboa bens na ordem de 1,03 mil milhões de dólares – menos 20,34% – e, em contrapartida, comprou produtos avaliados em 583,73 milhões de dólares, mais 43,61% face aos primeiros quatro meses do ano passado.

Os dados divulgados incluem – como sempre incluíram – São Tomé e Príncipe, apesar de só ter passado a fazer parte da ‘família’ do Fórum Macau no final de Março, após a China ter anunciado o restabelecimento dos laços diplomáticos com São Tomé e Príncipe, dias depois de o país africano ter cortado relações com Taiwan e reconhecido Pequim.

O comércio entre São Tomé e Príncipe e a China é, contudo, insignificante: entre Janeiro e Abril cifrou-se em 1,71 milhões de dólares, valor que corresponde na totalidade às exportações chinesas – que caíram quase um terço -, já que as compras de Pequim ao pequeno arquipélago africano estavam a zero.

 

Moçambique | Bancos tentam ganhar mercado nas empresas chinesas

A Economist Intelligence Unit (EIU) considera que o reajustamento do sector financeiro e restrições na política monetária chinesa vão influenciar a actividade das empresas em Moçambique apesar dos esforços dos bancos moçambicanos para atrair estas empresas.

“Com a procura interna de serviços financeiros em Moçambique retraída pela iliteracia financeira e pela natureza informal da economia, direccionar os esforços para as empresas chinesas pode dar uma oportunidade de expansão aos bancos nacionais”, escrevem os peritos da unidade de análise económica da revista britânica The Economist.

No entanto, acrescentam: “Duvidamos que as empresas chinesas vão confiar fortemente nos bancos nacionais quando operam em Moçambique, principalmente porque conseguem geralmente aceder a melhores negócios e serviços na China”.

Numa nota enviada aos investidores sobre os esforços da banca moçambicana para captar mais clientes empresariais chineses, a que a Lusa teve acesso, os analistas notam que apesar destes constrangimentos, “o forte reajustamento em perspectiva no sector financeiro chinês e as condições monetárias mais apertadas a partir de 2018 deverão influenciar o ritmo da expansão das empresas chinesas em Moçambique”.

Exemplificando com o Millennium bim, de capitais portugueses e o maior em Moçambique em termos de quota de mercado de activos, que no princípio deste mês anunciou um serviço de troca de moeda externa para as empresas chinesas, a EIU diz que esta é uma tendência do mercado seguida por outros bancos como o Standard Bank e a Société Générale.

“Esta tendência do sector bancário de melhorar a sua oferta às empresas chinesas reflecte o facto de a sua presença comercial estar a crescer”, salienta a EIU, lembrando os negócios de 6 mil milhões de dólares no projecto de gás natural liquefeito, no qual a petrolífera estatal chinesa tem uma quota de 20%, e o de 1,4 mil milhões de dólares nos caminhos-de-ferro, um empreendimento no qual a China National Complete Engineering tem 50%.

“O sector financeiro de Moçambique é demasiado pequeno para oferecer crédito a estes megaprojetos, mas os bancos estão provavelmente na esperança que estas grandes empreitadas encorajem outras firmas privadas chinesas a expandir a sua presença no país”, nomeadamente no sector dos serviços, conclui a EIU.

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