BOK | Artistas locais abordam a sociedade e desafiam os sentidos

São dois espectáculos de artistas locais que marcam a programação de hoje do festival de teatro experimental BOK. O teatro vai tratar alertar para a necessidade de comunicação. A música é um apelo à imaginação

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntrar nestes dias no edifício do antigo tribunal é não saber ao que se vai e, ainda assim, estar curioso para o que quer que possa acontecer. O festival BOK domina o espaço e promete pôr o público a experimentar novidades. Hoje, faz parte do programa teatro e música de artistas locais. Miki To e as “Water Singers” vão estar em palco para dois espectáculos que pretendem não deixar o público indiferente.

“Moderation” é a peça da dramaturga local Miki To. É um espectáculo que usa o tabuleiro de xadrez chinês como metáfora para jogos de forças e de interesse sociais e políticos.

Em palco vão estar, paralelamente, duas situações que se metaforizam mutuamente. Dois jogadores de xadrez de 1933 que se defrontaram antes da guerra com o Japão. Um chinês, outro nipónico, um com 19 anos, outro com 60. O mais velho, na altura, ganhou. Hoje, está na mesa um outro jogo. “O tabuleiro é o espaço onde a geração mais jovem de Macau tenta comunicar com as instituições locais, com um Governo que muitas vezes não a entende”, disse Miki To ao HM.

Dois confrontos que mais do que jogos são, considera a dramaturga, interacções políticas e sociais. “Por vezes, jovens e Governo posicionam-se em lados opostos da sociedade, mas não podemos ver estas posições a preto e branco, não se trata disso. Temos de ver os cinzentos, temos de ver onde comunicam. Neste sentido acontecem os movimentos, tal como no xadrez”, explicou a dramaturga.

A ideia apareceu com a observação da realidade vivida por muitos dos jovens de Macau. “Há pessoas que estão com ideias novas, que imaginam um futuro e que sabem o que querem fazer dele. No entanto, estas ideias não são muitas vezes as esperadas pela própria sociedade”, diz.

É para alertar para a importância de ideias “mais frescas” que “Moderation” existe. “Esta frescura é importante e mostra que os jovens querem tentar algo de novo, mas estamos numa sociedade com demasiadas regras e gostava de, com esta peça, encorajar estes jovens a avançarem, a atreverem-se e não se deixarem sufocar pelo estabelecido”, confessou Miki.

Diferentes, mas com respeito

Por outro lado, de acordo com a criadora de “Moderation”, “tal como num jogo, mesmo com o confronto, tem de existir o respeito e com isso espaço”. Em causa está aquilo que julga existir neste momento na sociedade local: o desrespeito pela diferença, sendo que é necessária “mais comunicação e, ao invés de se situarem em extremos opostos, Governo e sociedade precisam de arranjar uma forma de trabalhar para um lugar em que as diferenças sejam respeitadas”, explicou.

Para a dramaturga, o festival Bok representa já um movimento que dá oportunidade à geração mais jovem de mostrar o seu trabalho no território.

Só sons

Um concerto só de vozes e sons sem qualquer elemento visual é a proposta de “Picturesque”. O espectáculo é a primeira criação do grupo “Water Singers” constituído por quatro alunas do curso de música do Instituto Politécnico de Macau. A proposta é dirigida à imaginação.

As “Water Singers” existem desde 2014 e “Picturesque” é a primeira criação do ensemble feminino. O uso exclusivo do som foi uma escolha. “Pensamos que as pessoas, normalmente, imaginam mais o que olham do que o que ouvem, e o que é ouvido tem menos espaço na imaginação do que o que é visto”, explicou Bobo Loi. “Não é só música, o espectáculo tem vozes, efeitos de som, enfim, elementos que possam transportar as pessoas para dentro de si ou para uma viagem ao deserto, à floresta, à China ou à Europa”, rematou a intérprete.

Subscrever
Notifique-me de
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários