Performance | Festival Fringe apresenta trabalho de Jenny Mok

O edifício do antigo tribunal recebe a performance “Paisagem Entrelaçada: Maré da Noite” amanhã e domingo, pelas 20h. Fomos conhecer Jenny Mok, a coreógrafa que pisará o palco numa dança mais que plástica

 

[dropcap style≠’circle’]“É[/dropcap] uma coreografia pensada para materiais, em vez de ser para feita da forma tradicional, para o corpo humano.” As palavras são de Jenny Mok, a performer e coreógrafa que apresentará ao público do Festival Fringe este fim-de-semana o seu espectáculo sobre paisagens naturais em movimento. Anteriormente, a artista de Macau já havia trabalhado com tecidos no seu processo criativo, nomeadamente o algodão. Neste espectáculo, “Paisagem Entrelaçada: Maré da Noite”, o material escolhido foi o plástico. Esta exibição foi preparada a meias com a sua amiga e designer visual Nip Man Teng.

Há dois anos que a coreógrafa começou os seus trabalhos a solo. Primeiro começou por explorar a interacção entre corpo, som e luz, como partes iguais, que se fundiam numa linguagem única. Depois veio a preocupação com o que mais se poderia fazer em palco, além do trabalho físico com o corpo. Os materiais vieram por arrasto, naturalmente. “Quisemos fazer coreografias para corpos não-humanos, foi o primeiro passo”, comenta a coreógrafa. Jenny explica também que tenta dirigir o material enquanto representa, “mas o material fixa o tom” do que transmite, uma vez que a textura se conjuga com os restantes elementos em palco.

Jenny Mok considera que o plástico, sacos em particular, carregam uma carga negativa nos dias de hoje, muito ligados à deterioração do ambiente e ao excesso de consumo, e são o resultado de manipulação, outra palavra com uma conotação negativa. Paradoxalmente, usa estes dois elementos para transmitir algo natural.

“O que é engraçado é que, quando se tenta trabalhar com estes materiais manipulados, artificiais, em coreografia, eles dão uma impressão de paisagem natural”, explica a performer. “Também Macau é muito trabalhado, em constante transformação, e pegámos neste conceito de paisagens alteradas para fazer coreografia”, explica.

Mundo plástico

Jenny Mok tem formação em literatura inglesa, algo que considera importante na sua formação como artista, uma vez que lhe deu perspectiva para melhor entender o processo artístico. Durante o seu tempo como estudante universitária, começou a interessar-se por artes performativas, algo que ao primeiro contacto lhe “acelerou o coração”. O arrebatamento chegou antes de ter iniciado qualquer tipo de formação na área artística. A porta de entrada para a criação cultural foi como espectadora, mais precisamente no Festival Fringe de 2001. Sem ter compreendido muito bem o que tinha visto, Jenny ficou muito impressionada com a performance vanguardista a que assistiu. Um ano depois estaria a ter aulas de dança com a companhia que a tinha impressionado, depois de se voluntariar para ajudar no que fosse preciso.

Na primeira vez que pisou o palco, a artista confessa que não sabia muito bem o que estava a fazer, apenas tentou expressar-se da melhor forma que conseguiu. O seu processo criativo foi-se apurando até chegar a uma mensagem que transmite ao público usando a linguagem do movimento corporal.

Macau foi uma das inspirações para a artista, uma vez que a manipulação de paisagens atinge uma intensidade muito grande, comparando com outras cidades do mundo. “Esta não é uma performance sobre as mudanças nos horizontes de Macau, mas a cidade tem um enorme impacto em mim, enquanto criadora”, explica Jenny Mok. A artista completa que “é impossível não sentir a influência do sítio onde vivemos”.

Apesar do elemento de improviso, os espectadores terão uma visão de algo detalhadamente planeado. Ainda assim, “com este material nunca sei muito bem o que vai acontecer, eu tento manipular esse o plástico mas, por vezes, ele é que acaba por me manipular”.

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