Miguel Lança: “Recorri à pintura para aliviar o stress”

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m passeio com um dos filhos reavivou-lhe uma paixão antiga, quase como quem vai buscar algo ao baú das memórias. Miguel Lança costumava pintar na escola, mas acabou por deixar esse hobby de lado com o passar dos anos. Foi o filho mais velho que, tendo igualmente paixão pelas artes, o levou de novo ao mundo das telas e dos pincéis.
“Um dia passámos por uma loja, comprámos umas telas e umas tintas e começámos a aventurar-nos. Comecei então a pintar, sobretudo com acrílico, com técnicas mistas. Tenho algumas obras pintadas a óleo. Também gosto de usar tinta da china”, contou Miguel Lança ao HM.
Hoje mostra um pouco do seu trabalho através da sua página do Facebook, a Msv Art. Uma visita leva-nos a compreender que se tratam de obras dominadas pela cor e pelos traços fortes.
A trabalhar actualmente como chefe de sala no Instituto de Formação Turística (IFT), onde também dá alguma formação prática aos alunos, Miguel Lança pinta nas horas vagas para “aliviar o stress do dia-a-dia”. Apesar de não fazer dessa a sua profissão principal, Miguel já realizou duas exposições.
“As minhas experiências foram apenas duas exposições que fiz no Venetian, uma em que fui convidado por uns alunos que estavam a frequentar um curso no IFT e que precisavam de artistas locais para expor. A outra exposição foi através de um amigo que me convidou para expor os meus trabalhos.”
Inspirações não as tem, sendo o seu trabalho marcado pela espontaneidade, com base naquilo que vê. Aqui, a cultura chinesa também acaba por ter uma certa influência.
“Uma vez, para celebrar os dez anos de Macau, pintei um quadro com carpas, por ser um peixe que existe muito na Ásia. Às vezes inspiro-me em algumas fotografias que tirei, do Hotel Lisboa, do Jardim Lou Lim Ioc… as coisas vão surgindo naturalmente, não posso dizer que seja algo planeado. Agarro nos pincéis e nas tintas e é o que sai. Também gosto de usar tinta da china.”
Miguel Lança acredita que ser artista em Macau pode ser fácil, mas também difícil. “Há que reunir os contactos necessários, temos algumas facilidades. A Fundação Rui Cunha dá a possibilidade a artistas locais para exporem os seus trabalhos, bem como o Instituto Cultural e até a Macau Creative”, lembrou.

História com 11 anos

A história de Miguel Lança em Macau começou há 11 anos, quando veio por intermédio do pai, que já cá estava. Com um curso técnico-profissional, Miguel começou a trabalhar no restaurante Fernando, em Hac-Sá, lugar escolhido por inúmeros turistas de vários países. Daí, onde esteve quase uma década, guarda boas memórias.
“Foi uma boa experiência, é um restaurante com muitos clientes, alguns já de vários anos, passam por lá muitas pessoas, dá para fazer novas amizades. Foi uma experiência engraçada.”
Esteve oito anos como gerente, tendo passado depois para o Clube Militar, onde trabalhou como chefe de sala. “Sempre gostei muito da área da hotelaria, mas no início da minha carreira trabalhei mais em bares e discotecas”, revela ao HM.
Miguel Lança recorda o período em que 500 patacas chegavam para comprar toda a comida necessária para casa e onde um apartamento era bem mais barato. Onze anos após a sua vinda para o Oriente, Miguel destaca a segurança e o desenvolvimento de um território que teve um crescimento galopante.
Nunca trabalhou directamente na área de confecção de alimentos, mas defende que a variedade de pratos portugueses continua a não existir em Macau, apesar das inúmeras inaugurações de espaços que aconteceram nos últimos anos.
“Existem muitos restaurantes mas na maior parte dos menus a oferta é quase a mesma. Há restaurantes com uma boa feijoada, um bom leitão, mas não se pode dizer que haja um restaurante que reúna todas as condições e se possa dizer ‘aqui é tudo bom’. Há um bocado essa falha nos restaurantes portugueses, tudo é idêntico, a maneira de confeccionar a comida é muito semelhante. Não há muita diversidade”, concluiu.

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