Uma breve história do beijo “吻”之影史

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stava eu hoje a surfar na Internet, quando me deparei com o beijo mais demorado da história do cinema: o filme – No final do Outono (2010), tem como protagonistas Hyun Bin, actor coreano, e Wei Tang, actriz chinesa, que se beijam longamente numa cena que dura dois minutos e meio.
A China produziu o seu primeiro filme em 1905, 10 anos após os irmãos Lumière terem projectado, pela primeira vez, uma sequência de imagens em movimento para uma audiência que pagou para assistir. Nos 100 anos seguintes, foram realizados neste país pelo menos 7.000 filmes. Alguns deles marcaram a vida das pessoas e influenciaram a sua forma de olhar o mundo. Por volta de 1909, a China, com uma população de cerca de 400 milhões de almas, começou a ser vista como o maior mercado mundial para o cinema, mito que ainda hoje persiste.
Em Xangai, o empresário russo-americano, Benjamin Brodsky, fundou a Asia Film Co., a primeira empresa chinesa produtora de filmes. Com o capital e os estúdios cedidos pela Asia Film Co., Zhang Shichuan e Zheng Zhengqiu, duas figuras de topo dos primeiros anos do cinema chinês, realizaram Dificuldades no Matrimónio (1913). É considerado o primeiro filme chinês de ficção. Na altura, não era permitido às mulheres representarem, nem no teatro, nem no cinema. Mas em menos de um ano, Yan Shanshan virou a comunidade artística chinesa do avesso, quando ingressou num mundo dominado por homens, e desempenhou o papel de uma jovem no filme Os Ciúmes de Chuang-tzu, produzido em Hong Kong. Mais tarde Brodsky levou o filme para os Estados Unidos, pelo que foi o primeiro filme chinês a ser visto no estrangeiro. É um facto que são as mulheres que continuam a mexer com o coração das audiências na China, e não os Kung Fus nem os Pandas.
Um dia, um rapaz chamado Long que, quando era pequeno, só via pessoas a beijar-se nos filmes ocidentais, perguntou ao pai: “Porque é que os estrangeiros estão sempre aos beijos?” O pai respondeu, impaciente: “Porque são estrangeiros. Só os estrangeiros é que fazem isso.” Os tempos eram outros quando Long fez esta pergunta. É claro que as pessoas também se beijavam nos filmes chineses no início dos anos 30; as pessoas já se beijavam na literatura clássica! Nos anos 60, a Paramount encarnava a “luta de classes”. Considerava-se à época que beijar e abraçar eram comportamentos capitalistas e degenerados!
Quero agora relembrar alguns momentos em que actores chineses se beijaram na tela.
Em 1936, Fang Peiling realizou Metamorfose de Uma Rapariga. Neste filme, a protagonista feminina era uma rapariga que se vestia de rapaz desde pequenina, porque o avô queria ter um neto. Até que um dia uma amiga se apaixonou por “ele”. As duas raparigas beijavam-se apenas no rosto, mas este beijo teve um grande impacto porque foi o primeiro da história do cinema chinês.
Romance na Montanha Lushan, produzido em 1980, foi considerado num artigo da Agência France-Presse, como “representativo de uma nova tendência na moda e na filmografia chinesas”. De facto, este filme não trouxe nada de verdadeiramente novo, mas aos olhos das audiências chinesas de então, culturalmente esfomeadas, Romance na Montanha Lushan Mountain foi um festim. A heroína mudava de roupa dúzias de vezes no topo da montanha.
Para além do guarda-roupa, Romance tocou o coração das pessoas por causa de um pequeno beijo. A jovem protagonista, de fato de banho, com um olhar selvagem, dizia ao rapaz, “És tão tonto, mas tão adorável,” e a seguir pressionava os lábios contra a sua face. Na altura isto era novidade absoluta. Embora o beijo estivesse presente nos filmes feitos nos anos 30 e 40, depois de 1949, quando a República Popular da China foi fundada, estas manifestações de afecto foram erradicadas da tela. Romance trouxe-as de volta. Trinta anos mais tarde, Zhang Yu, actriz que desempenhou a protagonista, confessou: “Estava tão nervosa que não consegui encontrar os lábios dele. Porque a ideia era beijá-los nos lábios!”
Antes de Romance, o filme Reflexos de Uma Vida, estreado em 1979, tentou quebrar o tabu do beijo no cinema pós-Revolução Cultural. Contudo, o realizador não se atreveu a mostrar o beijo na integra às audiências. Quando os dois jovens estavam quase a despedir-se com um beijo, a mãe da jovem subitamente abre a porta e.… adeus beijo. Desta forma o realizador escusou-se a críticas.
Por fim, aqui vai o maior beijo da história do cinema. Desfrutem!

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