Marionetas esperam e desesperam por museu em Macau

São cerca de 900 as marionetas empacotadas à espera de mãos que lhes dêem vida. A colecção de Elisa Vilaça está há oito anos fechada enquanto burocracias, esperas e recuos por parte das instituições do Governo adiam a possibilidade de as trazer ao público da RAEM

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]lisa Vilaça, colaboradora da Casa de Portugal de Macau (CPM), é também a proprietária da colecção de marionetas que colocou à disposição da mesma com o objectivo de poder dar vida a um espaço dedicado a estes “bonecos”. A ideia teve início há oito anos e desde aí que os esforços por parte da CPM têm sido muitos. Os sonhos foram vários na concretização de uma plataforma criativa que incluísse as 900 marionetas que aguardam, empacotadas em contentores, uma oportunidade de cativar miúdos e graúdos.
Amélia António, presidente da CPM refere ao HM o apadrinhamento deste projecto por parte da instituição que preside, sendo que considera que “tem muito interesse para Macau pois serve o calendário da diversificação e formação”, temas actualmente tidos como bandeira estandarte da região. Neste sentido, a ideia é não só que a instituição ajude na criação de um espaço capaz de albergar o espólio já existente em Macau, mas também criar um possível festival, realizar oficinas na área e ainda formar profissionais, tanto de concepção dos bonecos como de manipulação dos mesmos. Se há oito anos ainda havia esperança que o Governo pudesse “tomar conta “ da iniciativa, para Amélia António, actualmente, e dadas as esperas e recuos por parte do Instituto Cultural (IC), pode ser tempo de “arrumar as botas”.
Desistir já não é para Elisa Vilaça. “Enquanto há vida há esperança” diz a proprietária do espólio ao HM. Apesar da tristeza que sente em ver a degradação gradual dos cerca de 600 bonecos que estão no território, visto os restantes 300 estarem de momento em Portugal, não considera desistir ainda da procura de uma casa para a sua colecção.
Se numa fase inicial os espaços poderiam não estar disponíveis para dar apoios, “até por questões derivadas de processos de degradação das casas”, o projecto mantém-se com “viabilidade para o futuro” na medida em que representa uma rentabilização dos recursos que já existem.
São objectos de valor que relatam uma história e por isso de “todo o interesse para o próprio governo” adianta a proprietária enquanto reitera a inclusão da iniciativa nas campanhas de diversificação cultural e turística da RAEM. Elisa Vilaça diz “não ter nenhum interesse pessoal na iniciativa” e lamenta que por “ questões burocráticas e políticas” os objectos de colecção já apresentem alguns danos dada a ausência de condições de preservação: “há fatos de seda que já estão danificados porque não temos como garantir condições para a preservação das marionetas”.

Projecto que não se levanta

Pôr de pé o projecto do Museu de Marionetas prevê três fases de desenvolvimento, correspondentes a três anos, adianta Elisa Vilaça.
Numa primeira, está prevista a construção e dinamização do museu com todas as informações já disponíveis onde se insere o enquadramento histórico e cultural de cada peça em três línguas: português, chinês e inglês. Segue-se a criação de uma escola de formação onde serão ministrados cursos de construção e manipulação de marionetas compreendendo também a respectiva divulgação nas escolas. Numa terceira fase, e “num culminar de toda a montagem do projecto”, é constituída uma área mais pedagógica e prática em que se inclui a criação de malas temáticas tendo como referência os países onde as marionetas têm tido maior predominância. Estas malas poderão ser requisitadas pelas escolas que com este material têm a possibilidade de desenvolver um projecto. Sendo que compreenderá uma vertente de linguagem, história e plástica, a aprendizagem será vista numa leitura transversal com base na arte das marionetas.

História em silêncio

A saga de procura de um apoio, nomeadamente por parte do Governo, teve inicio há cerca de oito anos, sendo que e para Amélia António, o feedback tem “sido muito pobre. Na altura pensámos que sendo um projecto interessante para a cidade, seria de todo o interesse para o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais.” Era ainda a instituição que tinha sob a sua tutela a realização de actividades culturais e por isso foi a “nossa primeira solicitação de apoio”. “Não nos disse rigorosamente nada”.
Posteriormente foi apresentado ao IC e a “recepção foi muito simpática como sempre”, afirma a presidente da CPM, sendo que “as pessoas mostram entusiasmo mas e à semelhança das situações anteriores não tivemos resposta alguma.” Junto de Guilherme Ung Vai Meng, presidente do IC, terá sentido que “o assunto teria realmente algum interesse cultural e com valor”. Deste interesse, foi solicitada uma mostra que teve lugar em 2012 na Galeria do Tap Seac e que concretizou a primeira exposição de marionetas em Macau. Em 2014 uma parte do espólio, nomeadamente constituído por marionetas asiáticas foi a Portugal integrar um exposição no festival de Sintra. Das iniciativas tomadas Amélia António refere ainda que “durante alguns anos fizemos questão, para fundamentar o nosso projecto, de assinalar o dia internacional das marionetas.” Para o efeito a Casa de Portugal de Macau trouxe à região grupos de outras paragens a apresentar os seus espectáculos. O objectivo era mostrar “de alguma forma o potencial que tínhamos para criar mais uma linha de acção e trabalho na área da cultura no território e, assim, o Governo poder vir a abraçar a ideia com outro gosto.
Agora, Elisa Vilaça afirma que “se houver instituições privadas, semi-privadas ou públicas” já tanto faz desde que possam, de alguma forma, fornecer o espaço físico. “Não necessita de grandes dimensões adianta, sendo que um dos objectivos é a criação de exposições itinerantes, para que o público possa ver uma apresentação diferente pelo menos “umas três ou quatro vezes por ano”. Alerta ainda para os vários espaços de Macau, aos quais não tem sido dada a devida atenção e que poderiam “muito bem albergar este projecto” nomeadamente as casas de Taipa ou mesmo o destino previsto para as casas de Avenida do Coronel Mesquita.
O HM Macau entrou em contacto com o IC de modo a saber as razões pelas quais o processo em causa está parado e quais os projectos na calha para as Casas da Taipa ou da Rua Coronel Mesquita mas não conseguiu obter informações até ao final da edição.

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