Tese |Vanessa Amaro analisa padrões de comportamento em portugueses em Macau

[dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m estudo com 60 portugueses que emigraram para Macau antes e depois da transferência para a China identificou padrões de comportamento e discurso, como a ideia de que estadia tem carácter “temporário”. Vanessa Amaro, que defendeu, na sexta-feira, na Universidade de Macau, a tese de doutoramento “Identidade e questões do estatuto sociocultural na comunidade portuguesa na Macau pós-colonial”, dividiu a amostra entre os que chegaram antes de 1999 e os que vieram na onda de um novo fluxo migratório, principalmente desde 2005.
“Uma coisa comum é que todos pensam Macau como uma coisa muito temporária”, disse à Lusa Vanessa Amaro, ex-editora do HM, recordando que muitos dos que chegaram antes da transição nunca compraram casa, não aprenderam Chinês nem criaram relações profundas com a comunidade chinesa porque sempre tiveram a intenção de “um dia ir embora”.
Os mais recentes têm o mesmo discurso e olham o território como “um trampolim profissional, como uma forma de ganhar experiência profissional e de fazer poupanças, para depois se mudarem para um destino que não necessariamente Portugal”.
Outro denominador comum é a recusa do termo “emigrante” para definir um português que vive em Macau, por ser “pejorativo”. Agarram-se, por um lado, ao “peso da história”, considerando ter um “papel importante” a desempenhar e “uma posição privilegiada”, soando como “uma ofensa” colocá-los em pé de igualdade como outras comunidades, como os filipinos. Por outro lado, “querem distanciar-se da figura do típico português dos anos 60/70, pouco qualificado”, vendo-se “diferentes” de outros portugueses espalhados pelo mundo, explicou Vanessa Amaro, com a ressalva de que não se pode generalizar.
“Encontrei muita gente a tentar encontrar outro termo”, contou a investigadora, considerando que “tem muito a ver com a necessidade de a comunidade se tentar posicionar como elite”.
Neste âmbito, destaca a “bolha” em que vivem alguns portugueses, que adoptaram a ideia de que podem fazer a sua vida sem precisar de aprender Chinês porque “têm as suas rotinas, os seus amigos, fecham-se nos seus grupos e fazem toda a sua vida no circuito português”. Só seis dos entrevistados falavam fluentemente Cantonense.
A barreira cultural da língua pesa e “essa cortina de vidro sempre existiu e sempre houve intermediários (…), mas a questão é que não há interesse da comunidade portuguesa em aprender de forma generalizada”, considerou.
“Todos concordam que são muito importantes para o futuro, não só pela história, mas também pelo próprio desenvolvimento, para manter a identidade única de Macau, para evitar que a cultura portuguesa seja modificada, vendida, embrulhada para os chineses como uma coisa de Macau. Acham que é importante também manter o que é português como português e não como uma coisa de Macau”, como é o caso do simples pastel de nata, ilustrou.
O estudo também identificou padrões nas razões que trouxeram os portugueses a Macau antes e depois de 1999 e nos motivos que os levam a permanecer, como as questões financeiras.

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Aníbal Gomes da Silva
Aníbal Gomes da Silva
2 Mar 2016 10:05

É repugnante quando se conhece as intenções por de trás da vinda desta nova geração de tugas, me parece os sangue-sugas. Ou seja vêm para somente explorar e “saquear” as patacas da terra, ignorando por completo o meio que os rodeia. É esta mentalidade retrogada, de não aprender o chinês, seja cantonense, seja mandarim, mas quando vão à França, Suiça, Alemanha, etc…, aí muda de cenário. Mesmo nos Estados Unidos, hoje em algumas escolas, o mandarim passou a ser uma língua estrangeira obrigatória, tal como é o inglês para nós no secundário. Fica bem claro que eu não defensor do… Ler mais »

Joana Freitas
Responder a  Aníbal Gomes da Silva
2 Mar 2016 11:14

O Aníbal não deve ter lido muito bem o texto, ou então não compreendeu. A investigadora fala também dos vieram antes de 1999 – esses não são definitivamente “a nova geração de tugas”. “Uma coisa comum é que todos pensam Macau como uma coisa muito temporária”, disse à Lusa Vanessa Amaro, ex-editora do HM, recordando que “muitos dos que chegaram antes da transição nunca compraram casa, não aprenderam Chinês nem criaram relações profundas com a comunidade chinesa porque sempre tiveram a intenção de um dia ir embora”. Aliás, em muitos artigos tem sido defendida a questão de que os mais… Ler mais »

Leocardo
Responder a  Joana Freitas
4 Mar 2016 11:21

Fui dar um “looksee” no sr. Anibal, nao por PIDISMO, mas para saber se era de ca, pois senao entendia-se melhor o desfasamento e a agressividade. Entendi na mesma, mas noutro contexto, e acrescento ainda que se compreende perante a actual conjuntura. Agora cuidado e’ para nao cair em contradicao: se os portugueses que chegaram recentemente sao na pratica “estrangeiros”, isto atendendo ao criterio da residencia, neste caso do BIR, para que respeitar os locais mais do que os outros estrangeiros? E com isto quero dizer que ninguem esta obrigado a seguir nenhum protocolo que nao o das regras do… Ler mais »

manuel ferreira
manuel ferreira
3 Mar 2016 20:39

Fica-se com a sensação de que as conclusões do estudo já estavam predeterminadas antes deste ser feito. Generalizações sobre uma comunidade de vários milhares, ao longo dos anos, feitas com uma amostragem de sessenta pessoas!? Por favor! Para já, só quero comentar aqui um aspeto, que é o dos portugueses não quererem aprender chinês: Porventura foram criados incentivos para os portugueses de Portugal aprenderem cantonense ou mandarim? Não sejamos hipócritas, já imaginaram o que seria, estes começarem a aprender e a falar chinês? O que é e que aconteceria aos locais no seu papel de intérpretes? Para se ser um… Ler mais »

Anibal Gomes da Silva
Anibal Gomes da Silva
4 Mar 2016 16:24

@Joana, creio que a Joana não compreendeu o quis dizer, se calhar faltou o “…com a ressalva de que não se pode generalizar.” utilzo as palavras da autora do estudo, as minhas. É óbvio que há bons e maus em todas as nacionalidades, mas como conheço melhor (nós) os portugueses, por isso, sinto mais, esses comportamentos. Se calhar não teria utilizado o termo nova geração, mas sim recém chegados, pois concordo consigo que alguns dos da velha geração tem os comportamentos deploráveis que voce referiu. Também assisti e conheci pessoal que se tentaram diluir na sociedade local jogando dados nas… Ler mais »

Anibal Gomes da Silva
Anibal Gomes da Silva
4 Mar 2016 16:26

Por fim, cumprimentos e um bom fim-de-semana a todos, me desculpem que eu não concordo o acordo ortográfico e prefiro a moda antiga de escrita.

manuel ferreira
manuel ferreira
5 Mar 2016 00:25

Caro Aníbal, o cantonense deve ser uma língua constituída em cinquenta por cento, de palavrões, pois muitas vezes presenciei, cada vez que um tuga na sua boa vontade pronunciava uma palavra em cantonense, lá vinha o risinho, acompanhado do ” disseste um palavrão”. Ele era o tchat, ele era o hai, ele era o tio, e assim por diante. Mas tem razão , isso não deve constituir desencorajamento, razão pela qual resolvi aprender mandarim, o suficiente para andar pela China aqui ao lado e entender-me com as pessoas. E estranhamente, apesar do mandarim também ter tons, ninguém se ria nem… Ler mais »