Hotel Estoril, à mercê de maus hábitos

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m Junho deste ano o Executivo da RAEM divulgou que o arquitecto Siza Vieira, encarregado da intervenção no local do antigo Hotel Estoril, teria proposto o desenvolvimento de um novo projecto, porque considera que o actual edifício não integra o importante património cultural de Macau.
À margem de qualquer correspondência material do que fora proferido, ou mesmo da possibilidade de o mestre se ter enganado, emerge um hábito recorrente de discurso institucional que usa o argumentum ad verecundiam ou argumentum magister dixi, o qual apela para a palavra da autoridade a fim de validar um raciocínio, no seguinte formato:
X profere P sobre assunto A.
X carrega autoridade sobre o assunto A.
Logo, P está correcto.
Isso consubstancia um raciocínio inválido quando a conclusão se baseia exclusivamente na credibilidade do autor da proposição e não nas razões que ele apresentou para sustentá-la.
Isso é hábito que se disseminou no discurso institucional da RAEM e é transversal a qualquer iniciativa que usa o mesmo formato para justificar ou contradizer actos de administração pública.
Já na visita guiada de dia 15 de Setembro ao edifício do antigo Hotel Estoril, outro hábito persistente foi o de encarregar o Sr. Eng. Costa Antunes de desenvolver informação junto da comunicação social e de suscitar ao auditório dessa comunicação social confianças que não assistem, nomeadamente sobre os desígnios das substâncias arquitectónicas, e logo no seguimento do que já protagonizou para a demolição da Torre de Controlo do edifício do Grande Prémio. hotel estoril
Por outro lado reconhece-se ser menos habitual o facto de o Presidente do Instituto de Desporto da RAEM admitir, na mesma ocasião, que o arquitecto encarregado “melhor poderá desenhar as possibilidades e tomar outras decisões ou escolhas”. Em verdade, é exactamente para isso que os arquitectos são treinados, desenvolvem experiência e neles recai confiança. Mas também confiança que, uma vez expressa, não é para ser retirada, só porque assim deixou de ser institucionalmente conveniente, sob pena de se fazer disso outro mau hábito.
Hábitos que não são bons, mas moldam a cultura urbana, persistem por falta de modelos de gestão e de tipificação de intervenções, fazem de cada caso um caso, servem de palco de discussões difusas e nada orientadoras, acabam por pôr em causa estilos de governação, quando confrontados com outros, menos participativos, todavia mais certeiros.
 
Escrito pelo arquitecto Mário Duarte Duque

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