Soraia Ramos Almeida, consultora fiscal

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se Soraia Ramos Almeida, tem 27 anos e é natural de Águeda, ainda que seja em Lisboa que se sente em casa. “Vivi lá nove anos, desde os meus 18. Quando penso em casa é Lisboa que surge no meu pensamento”, começa por contar ao HM.

De olhos brilhantes e sorriso sempre presente, Soraia abraçou a ideia de vir para Macau fazer um estágio na área fiscal. “Tudo isto foi muito estratégico”, brinca, explicando-se: “formei-me em Direito e depois tirei o mestrado em Gestão, trabalhei durante três anos em Portugal, mas sempre quis internacionalizar a carreira. Esse era o meu objectivo e por isso sabia que no final do ano me iria despedir”.

Candidatando-se para um LLM [programa de mestrado internacional na área de Direito], Soraia sabia que sem experiência no estrangeiro a selecção ficaria mais difícil. “Foi aí que pensei em candidatar-me para o programa Inov, que me permitia ganhar esta experiência internacional caso não fosse seleccionada [para o LLM]. A verdade é que consegui ser admitida para o mestrado, mas ainda assim, estava muito curiosa em saber onde é que seria o meu estágio Inov. Estava mesmo curiosa”, relembra entre sorrisos.

Ser mais que estagiária

Foi Macau que ouviu como destino. A surpresa, essa, não foi grande.

“Na área de Direito sabemos sempre que só podemos calhar em países com o nosso Direito, portanto não há muitas opções”, remata. Depois de uma reflexão decidiu: o mestrado ficaria adiado para Setembro e iria abraçar Macau nos próximos seis meses. “Vim de cabeça aberta, numa perspectiva a curto prazo”, conta.

Mas mais que isso, a profissional da área fiscal veio “disposta a dar tudo o que conseguisse pela experiência de trabalho”, retirando o máximo da experiência. “Já não há espaço no mercado para assumirmos um papel de estagiário que apenas obedece e espera por ordens. Devemos e temos de ser proactivos, querer saber e, mais que isso, fazer [mais]”, defende.

Seis meses depois foi isso mesmo que aconteceu. Admitindo que não foi o “maior desafio da vida”, até pelo curto prazo de duração, Soraia deixa Macau com o sentimento de dever cumprido e com óptimas recordações. “Correu lindamente, participei em projectos muito giros”, admite.

A hipótese de ficar pelo território esteve sempre em cima da mesa, até porque as ligações com os colegas são muito positivas, mas outros desafios surgiram na vida da jovem.

“Recebi um convite de trabalho para o Vietname e, contrabalançando a economia em expansão que aquele país está a passar com o pouco desenvolvimento do Direito Fiscal em Macau, não poderia dizer que não”, explica. O mestrado esse, foi adiado de novo. Quem sabe no futuro.

De turista a residente

Foi durante uma viagem, no ano passado, de mochila às costas, que visitou Macau pela primeira vez. “São coisas completamente diferentes”, diz sem hesitar, quando questionada sobre as diferenças de olhar o território como turista e residente.

“Vim aqui apenas um dia, achei tudo muito escuro, apesar de estar um dia de sol. Achei os prédios escuros, não conseguia perceber as centenas de ourivesarias que enchem a área que envolve os casinos. Não conseguia associar ao Jogo. Achei as diferenças entre Macau e o Cotai esquizofrénicas. Era para dormir cá essa noite e desisti, voltei para Hong Kong”, relembra.

Meio ano depois de assumir o papel como residente e parte integrante de Macau a opinião é bem diferente. “O melhor de Macau é este espírito de bairro. Conhecemos as pessoas, conhecemos os sítios, se estivermos sozinhas sabemos onde é que os nossos amigos estão, nem precisamos de perguntar”, conta, sublinhando as festas e momentos de convívio à volta de uma mesa. Afinal de contas “somos portugueses, gostamos de comer, beber e ficar na conversa”.

A melhorar ainda há muito, como em todo o lado. A começar pela necessidade de abandonar a ideia, diz Soraia, de que “em Macau não se passa nada”. “Acho que as pessoas se habituaram um bocado a esse ideia. Passa. Macau tem momentos culturais, não tanto quanto Lisboa ou Porto, ou até Hong Kong, mas tem os seus momentos, é preciso procurá-los”, defende. A própria é exemplo disso, já que em seis meses muitos convites recebeu para diversas coisas – exposições, concertos, festas – com muitas gargalhadas à mistura.

Pessoas que levo comigo

Quando pedimos a Soraia para nos fazer um resumo da sua passagem por Macau de imediato o olhar perde-se. Mexendo nas pulseiras que envolvem os pulsos, a emprestada alfacinha relembra, ri e solta um sincero “foi óptimo”.

“Não tinha grandes amigos em Macau, mas tinha imensos amigos de amigos que me receberam muito bem. A integração é fácil, foi muito fácil. As pessoas aqui são fantásticas, abrem-nos a porta de casa”, conta, constatando divertidamente “são portugueses”.

São as pessoas e os momentos com elas vividos que a aguedense leva na bagagem. “As minhas experiências são sempre à volta das pessoas que conheço. Se pensar em viagens que fiz, tenho alguma dificuldade em lembrar-me de tal monumento ou um sítio, mas se pensar nas pessoas que conheci e nos momentos que tivemos é mais fácil. Comigo levo pessoas e momentos e isso é também o que levo de Macau”, conta num misto de nostalgia e timidez.

De malas feitas, Soraia Ramos Almeida deixa Macau, com a garantia de que voltará. “Estou perto, a duas horas de distância, se me apetecer venho aqui um fim-de-semana comer um prato português”, garante, com o brilho no olhar e a certeza que Macau fica na história de quem por aqui passa.

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