Angola | Alteração no investimento chinês gera oportunidades

O investimento chinês na antiga colónia portuguesa está a virar-se para fontes de energia limpas em detrimento do financiamento de projectos de combustíveis fósseis

 

Analistas defendem que a reconfiguração do modelo de financiamento ao exterior pela China, visando reduzir riscos de incumprimento e apoiar a transição energética, resultou numa queda no investimento em África, mas pode gerar oportunidades para Angola.

No âmbito da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, a China cimentou a sua posição como credora dos países africanos, através do financiamento e construção de portos, aeroportos, linhas ferroviárias ou autoestradas.

No entanto, a crise de dívida entre os países em desenvolvimento, as alterações climáticas e o abrandamento da economia chinesa, levaram Pequim a mudar o paradigma, com apostas em projectos mais pequenos e nas energias renováveis.

Investigadores do Global China Initiative (GCI), no Centro de Política de Desenvolvimento Global da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, apontam um declínio persistente dos novos empréstimos por entidades chinesas a mutuários governamentais africanos, que se acentuou nos últimos anos.

O valor dos novos empréstimos caiu de um pico de 28,5 mil milhões de dólares, em 2016, para pouco menos de mil milhões de dólares, em 2022 – o segundo ano consecutivo em que os empréstimos caíram abaixo dos dois mil milhões de dólares.

“A iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’ parece estar num período de reconfiguração”, observou Oyintarelado Moses, analista de dados no GCI, à agência Lusa, numa entrevista por escrito.

Também Michael Pettis, professor de teoria financeira na Faculdade de Gestão Guanghua, da Universidade de Pequim, apontou um formato de pirâmide no gráfico do investimento chinês a nível mundial, com uma ascensão repentina que atinge o pico em 2016 e regista, logo de seguida, uma descida abrupta.

O ponto de viragem foi a entrada em incumprimento da Venezuela, explicou Pettis à agência Lusa. Segundo diferentes estimativas, Caracas deve actualmente 10 mil milhões de dólares a diferentes instituições chinesas.

“Isto foi um choque muito grande para Pequim”, referiu o economista, que vive no país asiático há mais de duas décadas. “Foi a primeira vez que [a China] percebeu que conceder empréstimos a países em desenvolvimento é bastante arriscado e que, quando há uma expansão demasiado rápida, é provável que surjam problemas”.

A pandemia da covid-19 e o aumento das taxas de juros nos últimos anos, em resposta à inflação galopante na economia mundial, terão tornado a China ainda mais cautelosa.

“A maior mudança que temos de reconhecer é que a era das taxas de juro baixas e do dinheiro barato que saía da China para estes países acabou”, disse Ammar A. Malik, investigador da unidade de investigação AidData do Instituto de Investigação Global de William & Mary, nos EUA.

“O desafio [para a China] é agora garantir que estes países têm liquidez suficiente e que estes projectos são suficientemente funcionais para que [Pequim] possa cobrar os seus reembolsos com juros e atempadamente”, afirmou.

Aposta verde

Nos últimos anos, vários governos beneficiários solicitaram aos credores, incluindo a China, um adiamento ou alívio da dívida.

No caso de Angola, um dos principais mutuários da China em África, a queda no investimento pode estar associada à decisão das autoridades chinesas de reduzir o financiamento de projectos de combustíveis fósseis e direccionar o dinheiro para fontes de energia mais limpas.

O Presidente chinês, Xi Jinping, anunciou, em 2021, que a China vai passar a apoiar “fortemente” o desenvolvimento verde nos países mais pobres.

“Este compromisso provavelmente resultará em apoio financeiro ao desenvolvimento das energias renováveis em Angola”, frisou Oyintarelado Moses.

“Futuras oportunidades de financiamento da China podem apoiar a transição energética de Angola e diversificar a sua economia, altamente dependente das exportações de petróleo”, disse.

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