Teatro | Comuna de Pedra apresenta peça que explora medos nascidos da pandemia

Jenny Mok é autora e intérprete de um dos três monólogos que compõem o espectáculo “A Doomsday Memorandum”, peça com o selo da Comuna de Pedra, em exibição amanhã e domingo nas Oficinas Navais nº 2. O espectáculo espelha medos e sentimentos num mundo em profundas mudanças sócio-económicas e políticas devido à pandemia

 

A pandemia e os seus efeitos psicológicos são temas centrais do novo espectáculo que a Comuna de Pedra começou a escrever em 2020 e que desenvolveu com o aclamado artista de Hong Kong Dick Wong. “A Doomsday Memorandum”, integrado na série de espectáculos intitulada “De-corps-struction” é apresentado este fim-de-semana nas Oficinas Navais nº 2, às 20h, apenas em chinês. A peça é composta pela entrega em palco de três actrizes que são autoras e intérpretes dos seus monólogos. Em termos conceptuais, “A Doomsday Memorandum” não tem personagens no sentido clássico, mas a apresentação de ideias e emoções das actrizes.

Jenny Mok, directora da Comuna de Pedra, traz ao palco a sua própria pessoa através de um monólogo “muito diferente” dos restantes. “Decidi focar-me no facto de, no meio de uma crise económica, ter uma opinião diferente em relação à maioria das pessoas, sobretudo a nível político ou social”, contou ao HM. “Poderemos falar sobre esta nossa ideia ou será que estamos sozinhos? É sobre este sentimento de solidão, quando sentimos que a nossa opinião não é defendida pelos outros”, acrescenta.

Helen Ko, outra das actrizes em palco, dará uma espécie de TED Talk “a apresentar sugestões ao público sobre a melhor forma de vencerem os seus medos”. Inês Kuan é outro elemento do trio que apresenta esta peça.

“É um espectáculo que envolve ecos de como reagimos às situações que enfrentamos”, adiantou. “Centralizamos os nossos sentimentos em relação a estas mudanças e sobre o conceito do apocalipse, e essencialmente como os seres humanos estão a enfrentar os seus medos nesta situação.”

Dick Wong “levou muito tempo” a preparar os textos com as suas intérpretes, por se tratarem de escritos “muito pessoais, quase auto-biográficos”. Trabalhar com Dick Wong à distância, devido às restrições da pandemia, foi um dos grandes desafios que a equipa teve de enfrentar.

“Esta é a terceira vez que trabalhamos com ele. Escrevemos este projecto ainda em 2020 e as coisas nunca voltaram ao normal como nós pensávamos. As autoridades foram alterando as regras, mas mantiveram sempre a quarentena obrigatória, e esse foi o maior desafio para fazermos este espectáculo.”

Mudanças rápidas

O apocalipse é “parte do conceito” da performance, uma vez que, para existir de verdade, pressupõe que todos os humanos morrem após uma catástrofe. Isso não aconteceu, mas não significa que as alterações profundas à vida que se conhecia até aqui não tenham acontecido. “O tema remete para o que está a acontecer em todo o mundo há dois anos, e são mudanças muito rápidas a nível social, económico e político. Há sempre este sentimento de medo perante isto.”

Jenny Mok recorda que o mundo já vinha mudando, devido ao desenvolvimento tecnológico, mas “com a pandemia as mudanças foram ainda mais evidentes”. “Este espectáculo pretende ser um eco daquilo que está a acontecer actualmente”, rematou.

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