Concentração

Vagueio pela casa de mim orvalhada não sei se eu se esta vida aqui disposta.

De um certo poema de vazio. E é como se por muitos dos momentos em que me contento em enfrentar-me tudo reparando finalmente que em mim existo me diga que é pouco quando queria de mim fazer a suficiência que não vem de outras paragens. Onde andam os outros que tanto se ausentam onde andam os espelhos cobertos de invisibilidade eu neles eles de mim e assim mais sós esvaziados de imagens que dizem como estou a gastar-me.

Nada é monótono nem contínuo desfiar de dias sempre encontrar as mesmas páginas irresolutas e sempre este grito que não sai por civismo e hábito. As palavras custam a encontrar o timbre prolongado de socorro e acusação. Ao que de outro não chega ao que de outro se alimenta da minha respiração. Em que me concentro devagar.

Mas nem sei se de mim há ar puro que sirva a alguém quando assim me vejo com as palavras diárias sem novidade sem extensão que as liberte daquilo que disparam.

Deviam liberdade a esta boca cheia do que desce de uma mente em círculos. Maldigo-as porque são pobres que sempre voltam sem os ter ensinado a ser independentes. Na mesma pobreza insuficiente. O que se quer das palavras senão que resolvam se revolvem devem alivia se descrevem devem entender e se compreendem devem sair para viver. E não voltar.

Ideias amantes têm connosco uma relação de hábito. Dão-se ares de que nos pertencem à casa, reclamam dos vinhos e reparam numa ruga nova mas recusam um novo recanto. Um parágrafo, um itálico. Do corpo.
Penso-as hipócritas a maquilhar rostos degradados repetidos e vãos. Espreitam em vão de escada por isso a passagem e voltam a enrolar-me os braços em volta e voltam a repetir-me falsas cumplicidades aos ouvidos cansados. Mas eu não as queria mais e por vergonha por não querer ferir-me na sua hipotética lealdade duvidosa mas possível tenho no fundo um medo de que se forem não voltem nunca mas mesmo nunca mais e delas venha a precisar. Que há tantas outras mas algumas me são amantes do costume e não sei se sei passar a outros braços e a outros fluidos de aroma diferente. É um vício o conforto de uma intimidade. Um abismo tudo o que se avizinha em volta uma temida dificuldade em descobrir o desconhecimento e uma apavorada dúvida de poder ser aceite amada e desvendada. Por outras palavras feitas. Ideias que cheguem desconhecidas e bravas em estado bruto. Mesmo se de desvendar já não se faz o gesto de anteriores palavras. Amantes.

Não as deveria deixar andar com a chave de casa para entrarem e saírem a seu capricho e gosto. Há dias em que não as quero. Há dias em que não quero outras. Há aqueles dias em que me são indiferentes e precipita-se a vertigem de um certo não sei o quê de afecto pela superfície das coisas. Não quero as profundidades sempre presentes e não quero os rostos maquilhados delas a encobrir a idade. Tão velhas a ficar como tudo ou mesmo eu. Repetidas e gastas e de dentro algo tende a rebelar-se das novas gerações de mim como em juvenil revolta de afirmação. De retrocesso de não querer o gato irisado na pele nem o tédio de tanto sentir sem saída. Em que eu preciso de revirar todo o eu sacudir de pernas para o ar como roupa despida para extrair dos bolsos toda a carga meio esquecida a fermentar poeiras e a dar de um certo eu esta ideia vencida.

Depois eu penso qualquer outra coisa como ou naquela expressão da Pina Bausch: “Dance, otherwise you’re lost.”. E danço.

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