GP Macau vai (e tem que) caminhar para um futuro sustentável

Ainda não é certo quando será realizada a 68ª edição do Grande Prémio de Macau, mas uma coisa é certa, se no fim de semana de 18 a 21 de Novembro a Taça do Mundo de Carros de Turismo da FIA – WTCR realizar a sua prova final no Circuito da Guia, como está escrito no calendário internacional da FIA, então será aberto um novo capítulo no evento – a estreia dos biocombustíveis.

A organização da WTCR anunciou na passada sexta feira que os carros da WTCR serão alimentados pela primeira vez por uma gasolina especial com 15% de componentes renováveis. Estes componentes não-fósseis são derivados do bioetanol produzido através da celulose e biomassa lenhosa, assim como de combustível bio-sintético (totalmente renovável). “A nomeação da P1 Racing Fuels como fornecedor oficial de gasolina da WTCR é um importante primeiro passo em direcção ao uso de um combustível 100% sustentável no campeonato, como delineado no roteiro de implementação que temos definido para a introdução dos biocombustíveis na WTCR”, disse Alan Gow, o presidente da Comissão de Carros de Turismo da FIA.

Apesar de ser uma novidade numa prova como o Grande Prémio de Macau, o uso de biocombustíveis no desporto não é novidade, como relembrou ao HM o engenheiro macaense Duarte Alves, que em Inglaterra “já em 2006 corríamos com um Aston Martin DBRS9 que usava E85 (85% de etanol). E em 2007, quando estive nos EUA, com um Aston Martin Vantage GT2, este também usava E85. No entanto, obrigava-nos a ter um depósito de combustível muito maior e a utilizar pressões mais altas no sistema de injeção. Julgo que, em termos de balanço ‘ecológico’, era complicado, pois utilizava 30% mais de combustível em termos de volume. Na altura, não pegou muito porque a tecnologia ainda estava nos seus primórdios e os custos que implicava não a justificam”.

Com a indústria automóvel em plena transformação, o automobilismo não escapará à tendência e, por ser um alvo fácil, está rapidamente a passar das palavras aos actos. A questão da sustentabilidade energética e da produção de gases que contribuem para o efeito de estufa são uma preocupação para a FIA. Por isso, não é por acaso que assistimos a um crescente de novos campeonatos com carros eléctricos, enquanto que as principais competições apostam em sistemas híbridos – F1, WRC, WEC, etc – e outras tecnologias mais amigas do ambiente.

O hidrogénio é a aposta futura para os organizadores do Dakar e de Le Mans. Por seu lado, a F1, que pretende chegar à neutralidade carbónica em 2030, acredita que a gasolina sustentável, sobretudo os “e-fuels” – que recorrem ao carbono presente na atmosfera para sintetizar petróleo – serão o futuro da indústria automóvel e do automobilismo, uma vez que, no limite, haverá um circuito fechado que não acarretará um aumento de dióxido de carbono para a atmosfera.

Não há marcha-atrás

Para Duarte Alves, o responsável pelo carro vencedor da classe principal das Thailand Super Series no ano passado e do Audi que terminou em segundo na Taça GT, o Grande Prémio de Macau precisa de olhar atentamente para esta questão ambiental se quiser conservar a relevância no panorama internacional. “Sem dúvida que Macau também deveria ter pelo menos uma categoria destas que promovam um futuro sustentável. Isto, se realmente quiser estar à frente e ser uma referência como evento a nível mundial”.

Por outro lado, Duarte Alves acredita que “juntar o legado do Grande Prémio a tecnologias ecológicas será um bom argumento para dar uma boa imagem do evento”, referindo, que do outro lado da moeda, “há sempre um problema a ultrapassar que neste caso são os elevados custos que implicam às equipas e obviamente a disponibilidade de equipamento ou carros”.

Os sistemas híbridos ou célula de combustível (hidrogénio) são por agora inacessíveis em massa, enquanto que os carros eléctricos de competição pecam pela autonomia ou têm ainda limitações técnicas que impossibilitam a sua utilização num circuito tradicional, como o Circuito da Guia. Já os biocombustíveis têm no seu custo actual o maior entrave, mas permitem manter a base dos sistemas de combustão actual e até o som do roncar dos motores, uma das críticas principais dirigidas às corridas com carros eléctricos pelos adeptos mais conservadores do automobilismo. Uma coisa é certa, a gasolina tal como a conhecemos tem os dias contados.

Igual nas motas

A aplicação de energias sustentáveis na categoria de duas rodas não será muito diferente daquela que está acontecer nas quatro rodas, basta lembrar que a Ilha de Man TT tem há vários anos uma categoria exclusiva para as motas eléctricas, a “TT Zero”. Em 2018, Michael Rutter disse ao HM que acreditava que uma moto de TT seria capaz de completar as 12 voltas do Grande Prémio de Motos. Sobre a possibilidade de no futuro a corrida combinar na mesma corrida as motos convencionais, com as motos eléctricas, Rutter, um também vencedor na “TT Zero”, afirmou que tal cenário não é de todo inconcebível.

“Definitivamente, isso não seria impossível, dependendo da gestão da potência e da velocidade por volta (das motas eléctricas). Mas só experimentando no circuito de Macau é que seria realmente possível perceber a diferença por volta destes dois tipos diferentes de motos”, explicou ao HM o britânico sobre algo que provavelmente um dia poderá ser avaliado. “A maior diferença de uma moto eléctrica para uma moto com motor a combustão é o ‘feeling’ que tens da mota”, esclareceu o veterano natural de Stourbridge. “Principalmente quando aceleras. Não há o atraso habitual, não tens de esperar (que a potência seja entregue à roda). Não consegues pôr a roda traseira a patinar”.

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