Um sonho oriental

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]onsideremos dois personagens: Manel e Maria, um feliz casal da Bobadela dos meados dos anos 90 do século XX. Manel era um simpático talhante da Brandoa, enquanto Maria trabalhava a dias na Reboleira. Com dois filhos pequenos, lá iam sobrevivendo e trabalhando duro para pagar as contas no fim do mês, até ao belo dia em que Manel decidiu aproveitar um dinheirinho extra de umas casas que o avô lhe deixou para tirar um curso de qualquer coisa à noite. Não era fácil estudar e acordar às seis da manhã para ir descarregar os lombos, os leitões, os coelhos e as codornizes, mas Manel lá se ia aguentando à bronca. Um dia soube por um primo no ministério/amigo na Câmara/cunhado nas Finanças que “precisavam de gente em Macau”, e chega excitadíssimo a casa para dar a notícia à Maria. Feitas as contas, a pataca era vinte e tal paus na altura, vinte e tal mil patacas eram quase quinhentos contos, portanto a única opção era partir. 
Os miúdos vieram também, fizeram logo amigos entre os filhos da nata da sociedade que também estudavam no Liceu. Manel era um caso de sucesso: indispensável na sua companhia, via o contrato renovado ano após ano, e era o “Sr. Dr. Manel”. Maria já nem precisava de trabalhar: ficava a tomar conta da casa, saía para a amena cavaqueira com as mulheres de outros manéis, era um regalo. Os filhos compravam tudo o que queriam e que nunca imaginariam ter se tivessem ficado na Bobadela; iam às lojas de Hong Kong com os amigos, e aos fins-de-semana gastavam mil patacas por noite. Quando iam de férias a Portugal no Verão, eram os putos mais ricos da Bobadela e arredores.
Como era diferente a vida em Macau. Na Bobadela jantavam fora nos aniversários e domingos santos, sempre no Zé da Rolha, em Alfornelos. Em Macau comiam fora todos os dias, e às vezes em hotéis de luxo. O mais longe que tinham ido quando viviam na Bobadela foi ao Alentejo, aquando da lua-de-mel, e ficaram numa pousada. Agora conhecem “toda a Ásia”, e não se inibem de falar com naturalidade de Tóquio ou Singapura aos vizinhos, amigos e primos, que nunca foram a lado nenhum e ficam a escutar a bazófia, ostentando um sorriso amarelo. No Natal vão à Tailândia fazer praia, coisa tão banal que já enjoa, enquanto que nos tempos idos da Bobadela iam acampar na Costa da Caparica, Verão sim, Verão não. Em Macau a empregada “deixa o jantar feito”, na Bobadela o jantar era às vezes o resto do cozido de Domingo, ou uma pizza congelada. No Verão vão de férias a Portugal, atenção, Por-tu-gal. Manel e Maria deixaram a Bobadela e agora têm uma vivenda em Loures, e são “gente bem”.
Os anos passam e Maria já faz parte do “jet-set” macaense. A antiga sopeira que não acertava num puzzle da Roda da Sorte ou num prémio bom do “1,2,3” começa a frequentar eventos sociais, concertos que a aborreciam imenso e exposições ridículas. Não falta ao lançamento de um livro de um autor local, e leva sempre uma cópia autografada. Diz que “consome cultura” e pertence praticamente a todas as associações lusófonas. Grande homem e apreciador de uma boa farra, Manel começou a sair com os amigos, primeiro em fartas jantaradas, uma ocasional bisca, e uma visita à sauna ou clube nocturno onde saltam as margaridas frescas. 
Manel, que já não sabia o que era uma anca estreitinha desde os anos 80 do século passado, fica louco com as russas, as mongóis (ou “mongolóides” como ele as chama), as tailandesas e as indonésias. Tudo fruta dos trópicos ou das estepes, e Manel deixa sempre uma ou duas notinhas de mil pelo menos uma vez por semana. Seria um escândalo lá na Bobadela, com a Maria a atirar os pratos ao Manel enquanto gritava “eu mato-te, desgraçado”, mas aqui é tudo muito mais suave – bem como quente e húmido. O Manel não é “má pessoa” ou sequer um “adúltero”, é simplesmente um daqueles simplórios (lá no fundo), que gosta de se divertir de vez em quando, e pronto, o conceito de diversão é pessoal e variável. Além disso as russas, mongóis, romenas, etc. têm a “escola toda”, e fazem “coisas” que a Maria “nem sabe que existem”. Parece que existe uma relação íntima entre o facto de ter dinheiro e poder e querer fornicar tudo o que apareça pela frente. E um homem não deve morrer estúpido, além tudo o que o Manel sabia do sexo oposto antes de vir para Macau, aprendeu com a Maria. 
Maria sabe, ou pelo menos desconfia das escapadelas de Manel. Para ela tudo bem, desde que o homem não dê muito nas vistas, e principalmente que “não deixe as amigas saber”. Maria sabe que pedir o divórcio a Manel por este andar metido com meninas da pouca vergonha adianta de pouco, e ainda os amigos advogados do Manel lhe faziam a caminha, e lá voltava ela para a santa terrinha com o rabo entre as pernas – salvo seja. Manel pouco se rala se Maria sabe ou não sabe, portanto duas ou três vezes por semana lá há reunião no escritório “até tarde”, e “não vai ser preciso esperar para jantar”, e acima de tudo “o telemóvel está em meeting”. Entretanto os filhos estão na universidade, ou já casados, e fizeram vida lá em Portugal, onde estão remetidos à vulgaridade da Bobadela ou da Brandoa. 
E lá vão Manel e Maria vivendo até ao limite o sonho oriental. Pelo menos enquanto vai dando…

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Afonso de Portugal
31 Jul 2016 06:12

Que bela merda de artigo. O autor, também conhecido por Lá Lá Cardo na blogosfera, vê-se que é um autêntico deficiente mental em estado avançado.

Anónimo
11 Ago 2016 00:36

Este “senhor” que escreve sob o pseudónimo de “Leocardo”, mas que na realidade é o Luís Crespo, é um autêntico escarro de ser humano. Fica muito mal ao jornal Hoje Macau, dar voz a este “senhor”, que mais não faz do que andar na internet a ofender e a difamar pessoas.

Apelo ao jornal Hoje Macau, para que pelos vossos leitores e para bem da higiene deste espaço, não voltem a publicar artigos do Luís Crespo.

Obrigado e grato pela vossa atenção.