Ann Chan, artista de aguarelas: “Sempre tive interesse em pintar”

Conhecemos Ann Chan na feira “Sun Never Left”, organizada todos os sábados em frente ao Albergue SCM. Foi aqui que percebemos que a jovem de Macau é também artista: no local vendia muitas aguarelas e as imagens que pinta, de gatos, são tão delicadas que nos despertaram curiosidade.
“Tenho gatos em casa há muitos anos mas nunca os desenhava. Por acaso, um dia, os meus amigos perguntaram-me se pensava em desenhar gatos e naquele momento surgiu a ideia. Comecei por tentar desenhar os meus dois gatos, o Man Kei e o Tai Fei”, explica-nos Ann Chan quando a questionamos. A ideia, acrescenta ainda, surgiu em 2013 e, desde aí, nunca mais parou.  
A jovem, que nasceu e cresceu no interior da China, foi convidada para ser uma das artistas que apresentam as suas obras aos residentes e turistas na feira. No início, Ann não vendia as obras, optando antes por fazer retratos de pessoas. Contudo, confessa-nos, a reacção de clientes não foi tão positiva quanto esperava e a jovem decidiu mudar a forma de fazer as coisas.
Agora, Ann até recebe pedidos especiais para pintar. Clientes mostram fotografias de gatos que já faleceram, para que a jovem os pinte e estes fiquem, para sempre, na memória dos seus donos. A nós, a jovem confessa que gosta disto – até prefere ganhar menos com a venda das obras, só pelo prazer de ajudar outras pessoas a relembrar os seus amigos de quatro patas.

Da Arte à publicidade
Ann nasceu e cresceu no interior da China e relembra que, desde pequenina, que as aguarelas lhe despertaram interesse. Por isso mesmo, começou formação em Arte na escola secundária e tirou um curso para ser docente desta técnica em Cantão.
Apesar disso, quando começou a trabalhar, o caminho não foi o de artista nem o de professora e Ann decidiu trabalhar em publicidade.
“Não cheguei a ser professora porque comecei a ter outras ideias. Resolvi trabalhar em publicidade gráfica, no início no interior da China e depois em Macau”, conta-nos.
Ann veio para o território há sete anos e está a trabalhar na secção de Marketing de uma empresa de venda a retalho, mas continua a utilizar os seus conhecimentos profissionais. Os outros.
“Nunca deixei para trás o que estudei, porque é sobre estética. Acho que quem estudou Economia, pode não conseguir fazer publicidade. Faço muitos cartazes para a minha empresa, que precisa de mim”.  
Mas Ann tem agora ‘duas vidas’ uma de trabalho e uma artística. “São duas coisas separadas. Quando trabalho e quando desenho. Esforço-me muito no horário de trabalho e só crio nos tempos livres”.
Para Ann Chan, Macau tem muito mais recursos e maneiras de fazer Arte, comparativamente ao interior da China.
“Sempre tive interesse em pintar, mas quando trabalhei na China, não fazia arte por causa do ambiente, não existe uma atmosfera como em Macau. Muitos colegas meus também deixaram o meio artístico, a não ser os que são professores”.
Mas Ann não deixou o sítio onde nasceu só por causa disto. A área onde trabalha foi outra das razões, já que “é muito difícil trabalhar” em publicidade na China continental: trabalhava dia e noite por causa das exigências dos clientes, algo que a deixava exausta.
Mas teve sorte. Conseguiu trabalho em Macau e conheceu um mestre de aguarelas por cá, voltando a relembrar como se pinta. Ann Chan não se fica só pelos gatos e gosta muito de desenhar paisagens, objectos e retratos. 
A jovem diz que Macau dá muitas oportunidades a pintores e artistas. Ainda não é suficiente, diz contudo, questionando: “o que é mesmo uma indústria cultural e criativa? Não é apenas de quem sabe desenhar. É preciso um planeador para ajudar os artistas, criando a imagem deles e dando valor às suas obras. É verdade que existe um grupo de artistas em Macau e o Governo apoia muito, mas acho que está em falta um planeador em Macau, há uma desconexão entre os artistas e os consumidores”, disse.
No ano passado, Ann Chan organizou a sua primeira exposição: “Paint whatever you like”, onde mostrou principalmente aguarelas de gatos. A exposição foi inspirada por uma voluntária que ajuda felinos abandonados.
“Fiquei muito triste depois de visitar a voluntária, que adoptou um grupo de gatos em casa, algumas das fêmeas até estão grávidas. Acho que a sociedade deve dar atenção à importância de esterilização de animais abandonados para que não se reproduzam mais”.
Na exposição, Ann vendeu as suas obras e as receitas foram todas para ajudar a voluntária.  
No início deste ano, a jovem fez parte de outra exposição – “Brush Together” – com sete pintores locais. As obras de Ann foram novamente os gatos pintados a aguarela, duas paixões da jovem. Ann vai agora participar em mais uma exposição juntamente com outros artistas locais, mas desta vez as obras em exposição são paisagens, ainda que pintadas na mesma a aguarela.
Olhando para futuro, a jovem ainda não tem um plano muito claro, mas sabe que não quer continuar pelo caminho das exposições dos seus trabalhos. “Quero fazer uma pausa, pensar no caminho para o resto da vida”.

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