Itzhak Perlman dá recital em Hong Kong

*Por Michel Reis

[dropcap style=’circle’]I[/dropcap]tzhak Perlman, um dos mais conceituados e virtuosos violinistas dos séculos XX e XXI, deu um raro recital em Hong Kong no passado dia 8 de Novembro, no Concert Hall do Centro Cultural de Hong Kong, no âmbito do Ciclo Encore do Leisure and Cultural Services Department do Governo da R.A.E. de Hong Kong. Perlman foi acompanhado pelo pianista cingalês Rohan de Silva, seu parceiro habitual. Este recital está inserido numa digressão asiática dos artistas que os leva ainda durante todo o mês de Novembro a Pequim, Xangai, Daejeon, Seul, Tóquio, Osaka e Nagoya.
Neste extraordinário concerto, Perlman, que celebrou o seu 70º aniversário no passado dia 31 de Agosto, e de Silva, executaram obras de Jean-Marie Leclair, Johannes Brahms, César Franck e Igor Stravinsky, e vários encores, entre os quais o Tema da Lista de Schindler, de John Williams, Sevilla de Isaac Albéniz e a Dança Húngara No 1 em Sol menor de Johannes Brahms, entre outras peças.
Inegavelmente o virtuoso reinante do violino, Itzhak Perlman goza de um estatuto de super-estrela raramente concedido a um músico clássico. Amado pelo seu charme e humanismo, bem como pelo seu talento, é estimado pelo público em todo o mundo, que responde não só ao seu notável talento artístico, mas também à sua alegria irreprimível de fazer música.
Nascido em Tel Aviv em 1945, Perlman teve poliomielite aos quatro anos de idade, com graves sequelas, razão pela qual utiliza muletas ou uma scooter eléctrica para se deslocar e toca sempre sentado. Os seus pais, Chaim e Shoshana Perlman, oriundos da Polónia, haviam emigrado independentemente para o Mandato Britânico da Palestina (actualmente Israel) em meados dos anos 30 antes de se conhecerem e casarem. Ao ouvir na rádio um trecho de música clássica, o pequeno Itzhak interessou-se pelo violino mas a sua entrada no Conservatório Shulamit, em Tel Aviv, aos 3 anos de idade, foi recusada por ser pequeno demais para segurar um violino. Assim, aprendeu a tocar sozinho usando um violino de brinquedo até ter idade suficiente para entrar no Conservatório, onde estudou com Rivka Goldgart, e na Academia de Música de Tel Aviv, onde deu o seu primeiro recital aos 10 anos de idade, antes de partir para os Estados Unidos para estudar na The Juilliard School, em Nova Iorque, com os célebres professores do instrumento Ivan Galamian e Dorothy Delay. Aos 13 anos de idade ficou famoso pela sua interpretação do Concerto para Violino de Beethoven com a Orquestra Filarmónica de Berlim.
Perlman foi apresentado ao grande público americano quando apareceu no “The Ed Sullivan Show” duas vezes em 1958. Pouco depois, iniciou digressões por todo o mundo. Fez a sua estreia no Carnegie Hall em 1963 e ganhou o altamente prestigiado Concurso Internacional Leventritt (hoje extinto) em 1964. Também em 1964, volta a participar no The Ed Sullivan Show, no mesmo programa em que participam os Rolling Stones. Além de inúmeras gravações começa a aparecer em emissões televisivas tais como “The Tonight Show” e “Sesame Street” e actua muitas vezes na Casa Branca.
Em 1986, tocou no centésimo tributo da Orquestra Filarmónica de Nova Iorque à Estátua da Liberdade, no Central Park, dirigido pelo maestro Zubin Mehta e emitido ao vivo pela estação de televisão ABC. Em 1987 colaborou com a Orquestra Filarmónica de Israel (IPO) em concertos em Varsóvia e Budapeste, assim como noutros países de leste. Participou na “tournée” da IPO na Primavera de 1990, a sua primeira actuação na União Soviética, com concertos em Moscovo e Leningrado. Ainda com a IPO, actuou na China e na Índia em 1994.
Sendo sobretudo um violinista solista, Perlman, para além da sua actividade como maestro e professor, tem actuado com muitos outros músicos notáveis, entre os quais Yo-Yo Ma, Jessye Norman, Isaac Stern e Yuri Temirkanov. Também actuou e gravou com o seu amigo violinista israelita Pinchas Zukerman em inúmeras ocasiões ao longo dos anos. Além de música clássica, Perlman também toca jazz, sendo de mencionar um álbum com o pianista de jazz Oscar Peterson. Perlman tem actuado como solista em muitos filmes, com destaque para “A Lista de Schindler” em 1993, com música de John Williams, premiado pela Academia de Cinema Americana. Mais recentemente foi o violinista solista do filme “Memórias de uma Gueisha” em 2005, juntamente com Yo-Yo Ma. Em 2009 interpretou Air and Simple Gifts, de John Williams, na cerimónia de inauguração presidencial de Barack Obama, juntamente com o violoncelista Yo-Yo Ma, a pianista Gabriela Montero e o clainetista Anthony McGill.
No princípio da sua carreira usou um violino Carlo Bergonzi. Posteriormente comprou o Stradivarius “General Kid” de 1714, que vendeu em meados de 1980, tendo adquirido o violino de Yehudi Menuhin, o famoso Stradivarius “Soil” de 1714, considerado um dos melhores Stradivarius. Passado algum tempo também adquiriu o “Sauret” Guarneri ‘del Gesù’ de 1740-1744.
Desde 2003 Perlman ocupa o lugar que pertenceu à sua professora Dorothy DeLay (já falecida), na Escola de Música Juilliard, como detentor da cátedra de Estudos de Volino da Fundação Dorothy Richard Starling. Dá aulas privadas no Perlman Music Program (Programa de Música Perlman), em Long Island, Nova Iorque. Também deu aulas no Centro Comunitário de Be’er Sheba, em Israel, partilhando generosamente o seu saber com o público fora das aulas formais. O Programa de Música Perlman foi fundado pela sua mulher, Toby Perlman, também violinista e por Suki Sandler, em 1995. Este programa permite aos estudantes serem treinados por Itzhak Perlman antes de se apresentarem em audições em locais como o Sutton Place Synagogue e escolas públicas. Também permite que os estudantes se encontrem e desenvolvam uma rede de amigos e colegas de profissão.
Itzahk Perlman recebeu vários prémios e distinções, entre os quais 16 Prémios Grammy e 4 Prémios Emmy e ainda a Medalha da Liberdade atribuída pelo Presidente Reagan em 1986; a National Medal of Arts atribuída pelo Presidente Clinton em 2000, Kennedy Center Honors em 2003 e títulos honoríficos pelas Universidades de Harvard, Yale, Brandeis, Roosevelt, the Cleveland Institute of Music, Yeshiva e Hebrew.
Itzhak Perlman deu um recital em Macau no âmbito do XXV Festival Internacional de Música de Macau, em 2011.

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